Clube de Leitura discute “Niketche: Uma história de poligamia”, de autora moçambicana
O Clube de Leitura da Apamagis abordou, nesta terça-feira (4/11), o livro “Niketche: Uma história de poligamia”, da escritora moçambicana Paulina Chiziene. A palestra ficou a cargo de Vanessa Ribeiro Teixeira, Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa e Doutora em Literaturas Portuguesa e Africanas de Língua Portuguesa pela UFRJ. A Juíza Leonete Maria da Silva Carlos, integrante da Secretaria Apamagis Mulher, foi a mediadora do encontro.
A obra, lançada em 2002 — dez anos após o fim da guerra civil que assolou Moçambique — tem como protagonista Rami, que narra sua descoberta de que o marido, Tony, tem outras esposas espalhadas pelo país. No decorrer do livro, ela fala sobre os encontros e relacionamentos com essas mulheres. Ao abordar a poligamia, traço cultural de Moçambique, mostra os efeitos dessa tradição numa sociedade em processo de transformação. O livro valeu a Chiziane o Camões de 2021, maior prêmio literário em Língua Portuguesa.
A palavra “Niketche”, que dá título à obra, refere-se a uma dança circular, um ritual de passagem realizado no norte do país, no qual as meninas deixam a infância e passam à vida adulta. A primeira contradição é expressa pela própria situação de Tony. A despeito de seu confortável status, ele não cumpre as regras da poligamia — entre elas dar casa e sustentar financeiramente suas esposas —, vê, então, seu poder reduzido.
“Rami relata histórias que ouviu contar de norte a sul de Moçambique. Em termos narrativos, afora a questão da poligamia, há uma crítica à negligência desta prática e o que ela demanda dentro das estruturas tradicionais do país”, aponta a palestrante, Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Culturas e Artes na Universidade do Grande Rio.
Aviltamento feminino
Segundo a Professora, o fato de Rami não ter sido preparada para se defender contra as outras amantes de Tony não a levam a fazer delas suas inimigas, mas suas irmãs. Releva-se uma crítica muito lúcida em relação ao aviltamento da existência feminina em qualquer cultura. “Ainda assim, ela não tem que deixar de ser uma defensora das culturas tradicionais para criticar aquilo que parece muito humilhante nessas culturas”, afirma Vanessa Ribeiro Teixeira.
Não se trata, porém, de um drama pessoal. Em “Niketche: Uma história de poligamia”, Paulina Chiziene — autora de obras como “Balada de amor ao vento”, “Ventos do apocalipse” e “O canto dos escravizados” — tece uma trama perpassada pela guerra civil moçambicana já após a guerra de libertação colonial em relação a Portugal. “Estamos no contexto de intervalo ou da constante ameaça da guerra civil, que perdura entre 1977 a 1992 e que, volta e meia, assombra as aldeias do extremo norte.
Entre momentos de guerra e cessar-fogo, as reflexões e as peregrinações de Rami na cultura e nas tradições de Moçambique acabam por revelar não apenas a problemática condição feminina, mas também a de homens como Tony, que não consegue imaginar a possibilidade que lhe seria propiciada, caso ouvisse as mulheres e os mais velhos, de atender afetivamente cada uma delas.
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