Professora Elena Vassina debate livro A Dama e o Cachorrinho com associados da Apamagis no Clube de Leitura
O Departamento Cultural da Apamagis promoveu nesta terça-feira (12/4) mais uma edição do Clube de Leitura Amigos da Prosa e Poesia, desta vez para abordar o clássico da literatura russa A Dama e o Cachorrinho, de Anton Tchekhov. O evento contou com a palestra da professora de Letras Russas da USP Elena Vassina e teve a mediação da juíza Danielle Martins Cardoso.

Associados da Apamagis acompanham pela plataforma Zoom o Clube de Leitura Amigos da Prosa e Poesia
A palestrante iniciou sua fala abordando um pouco da biografia do autor. Anton Tchekhov, segundo Elena Vassina, foi um dos únicos escritores russos do século XIV de origem humilde, mais especificamente de família de servos. “Tchekhov é um dos únicos desses grandes escritores da época de ouro da literatura russa do século XIV, que teve origem muito humilde. Filho de um ex-servo, nasceu numa família com quatro irmãos, em 1860, um ano antes de ser abolida a servidão na Rússia. O avô de Tchekhov, também servo, conseguiu juntar dinheiro e comprar a liberdade de seus filhos homens. Contudo, as filhas mulheres continuaram servas. Com a abolição, toda a família dos Tchekhov foi libertada.”
Além da pobreza vivida na infância, Anton Tchekhov ainda conviveu com muita violência em casa, sendo agredido constantemente pelo pai. Mesmo assim, conseguiu construir uma carreira literária fantástica, sem nunca esquecer dos tristes momentos vividos. “Tchekhov conseguiu fazer uma carreira literária fantástica, mas muito curta, morrendo aos 44 anos, em 1904, de tuberculose. Escreveu obras bem curtas, contos, novelas e não chegou a escrever nenhum romance”, disse a professora.
Sobre o livro, Elena Vassina chama a atenção para o fato de que as obras de Tchekhov costumam não ter um desfecho: “Não tem termina em ponto final. Terminam em reticências, como um fluxo natural da vida. Sempre um final aberto”.

A professora Elena Vassina e o livro A Dama e o Cachorrinho
A Dama e o Cachorrinho
O livro basicamente conta a história de um bancário de Moscou, Dimitry Gurov, que, infeliz no casamento com uma mulher mais velha, a trai durante toda a vida. Em uma de suas viagens, à cidade litorânea de Ialta, conhece Anna Sergeyeva caminhando pela orla com seu cachorrinho. Anna, que também era casada, se envolve aos poucos com Gurov e os dois passam a viver um romance proibido e sem desfecho.
Elena Vassina conta que o autor transcorre com precisão nos detalhes, que passam a ser mais importantes que os fatos marcantes. “A Dama e o Cachorrinho é uma novela de 1899, uma obra das mais ricas de Tchekhov na qual há acontecimentos extraordinariamente sentimentais. Um adultério muito banal se transforma em um grande amor, ou seja, tudo paradoxalmente é feito ao contrário. Ao capturar os detalhes, Tchekhov mostra isso com muita precisão, como de repente na vida de uma pessoa pode surgir um grande sentimento e uma virada decisiva que ninguém previa.”
Com relação ao título, a professora destaca que a escolha do autor mostra a vontade de passar a mensagem de delicadeza e de carinho. “O título me parece muito lúdico. A dama é qualquer mulher. É como ela e ele. E essa dama tem um cachorrinho. Esse cachorrinho mostra carinho. Uma dama com carinho. Algo muito carinhoso e indefeso. Se Tchekhov escrevesse a dama com o cachorro seria diferente, mas ele preferiu o cachorrinho para passar essa mensagem.”
Outro ponto que a palestrante chama a atenção é para o enredo do livro que acaba enganando as expectativas do leitor. “Na obra não existe um esquema clássico de enredo. Não esta claro qual é o enlace do conto. E a história não tem desfecho, um final claro. Tudo pode ser visto como um acontecimento central de narrativa, seja o renascimento espiritual de Gurov, o personagem principal, ou a transformação de um affair de férias em uma história, ou, ainda, a decisão dos personagens de não se separarem mais. Tudo são acontecimentos interiores, mas nenhum ganha um destaque especial. Todos esses acontecimentos são invisíveis e, em geral, acontecem de forma inesperada tanto para o leitor quanto para os personagens. As expectativas são enganadas.”
A professora ainda chama a atenção para palavras-chave para entrar no clima de A Dama e o Cachorrinho. “Importante destacar uma palavra muito usada por Tchekhov na obra que é a palavra tédio. Tchekhov fala muito e a todo momento sobre esse tédio de vida cotidiana. Tem muito silêncio também entre eles. Mesmo quando eles se conhecem, Gurov se aproxima de Anna e aos poucos começam um affair. Tchecov descreve esses momentos entre os dois com muito silêncio e pouco diálogo.”
Mais um termo muito usado para descrever o sentimento de Dimitry Gurov é o sufocamento. Por conta de estarem vivendo um romance em que os dois eram casados, Gurov se sentia sempre vigiado, mais precisamente sufocado. “Gurov a todo momento diz que estar com Anna era sufocante. Seja na rua, seja nos quartos de hotel. Tudo por conta do medo de serem descobertos”, comentou Elena Vassina.
A palestrante também lembra que, na obra, o autor usa e abusa da descrição dos cheiros, seja das ruas, da brisa do mar, das comidas e em especial dos perfumes de Anna Sergeyeva. “Destaco que nas obras de Tchekhov os cheiros são muito importantes. Por exemplo, Gurov olhou Anna abraçou e beijou seus lábios, sendo envolvido pelo perfume das flores. Depois vão para o quarto de hotel dela onde também havia muito cheiro de perfume.”
Por fim, Elena Vassina destaca que A Dama e o Cachorrinho é uma história de pessoas reais, que descreve muito bem as relações dos homens, as relações afetivas e as surpresas que a vida nos provém da forma mais natural. “A Dama e o Cachorrinho é uma obra sobre a relação do homem perante si mesmo diante das imprevisibilidades. sobre as surpresas da vida.”
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