Curso da Apamagis Cultural promove viagem histórica do fim do século 19 até os “loucos anos 20”

16 de setembro de 2021

O curso “Os Loucos Anos 20”, promovido pela Apamagis Cultural no dia 31/8, garantiu aos 38 participantes uma viagem de cerca de uma hora e meia pela história, a partir do fim do século 19 até o início dos anos 30. Depois disso, ainda rendeu mais cerca de uma hora de bate-papo do palestrante, o professor de história Guilherme de Vasconcellos Almeida.

Se de um lado foi mostrada uma Paris luminosa e cheia de vida, por outro foram exibidos os Estados Unidos mergulhados na dureza da Lei Seca e que desfechariam a década com uma das piores crises de sua história: o crash da Bolsa em 1929, que deixou milhões de desempregados.

O foco principal dessa conversa, porém, foi a Europa. E Guilherme de Vasconcellos Almeida voltou ao final do século 19 para explicar como as incertezas desembocaram na “euforia desmedida, no carpe diem” dos loucos anos 20 em Paris.

Terror na África
O ponto de partida da conversa com os associados da Apamagis foi a era dos impérios, com a Inglaterra dominando todas as rotas comerciais, em especial África e Ásia. A África, naquele final de século 19, era tomada por dominadores, entre eles o rei Leopoldo II, belga, e nas palavras do professor “provavelmente um dos maiores genocidas da história da humanidade”. Diante da recusa do parlamento belga de dominar o Congo, Leopoldo II o toma para si e instala o terror no país.

“O terror é desmedido, e uma das práticas centrais era a amputação de membros, principalmente as mãos”, disse. Várias imagens foram exibidas durante toda a aula. Em uma delas, no Congo, um homem observa os pés da filha, amputados junto com uma mão da criança, como castigo ao pai por ter desobedecido ordens.

Fenômeno das massas
A Revolução Industrial, então em sua segunda fase, traz o fenômeno das massas. Nesse cenário, marcado por fileiras cada vez maiores de operários, inclusive crianças, trabalhando à exaustão, aparece o filósofo Nietzsche (1844-1900). “Ele mata Deus porque precisa matar a única certeza que havia até então”, comenta o professor.

E vem também Franz Kafka (1883-1924), com seu personagem Gregor Samsa de “A Metamorfose” acordando de sonhos intranquilos metamorfoseado em barata. “Ele odiava o rigor daquela vida que sofria, odiava a classe média baixa a que pertencia”, disse. Para o professor, arte e literatura ajudam a entender o panorama da alma europeia.
Na Rússia, Dostoievski (1821-1881) revela a angústia daqueles tempos em obras como “Os Demônios” (1873), “Crime e Castigo” (1866) e “Memórias do Subterrâneo” (1864).

Émile Zola (1840-1902), em seu livro “Germinal” – depois adaptado para o cinema em filme homônimo com Gérard Depardieu –, retrata a dura vida dos trabalhadores nas minas de carvão na França, no século 19.
A vida no final do século 19 e virada para o século seguinte vão levar Freud (1856-1939) a discorrer sobre o fenômeno das massas e o que se passa com cada indivíduo em “Psicologia das Massas e Análise do Eu”, lançado no início dos anos 1920.

Arte e alucinação
“Dentro desse mesmo balanço, temos a genialidade daqueles que são, do meu ponto de vista pessoal, os grandes arautos de uma leveza dentro de uma estrutura extremamente agressiva nesse fim de século: Manet, Monet, Degas, Renoir, Gauguin, Van Gogh”, disse o professor. “Eles têm esperança numa vida mais leve, um pouco mais impregnada de alegria, cor e formas.”

Nos cafés, pintores, escritores, músicos e poetas usam e abusam da “grande fada verde” de todos: o absinto, bebida que provoca alucinações. “Na época, alguns usavam pequenas doses de arsênico para que os espasmos estomacais provocassem uma entrada mais rápida do álcool na corrente sanguínea, provocando maiores alucinações”, contou,

Mas ainda não eram os anos 20. Os ares de mudança, porém, já começaram a soprar em 1913, com o balé “A Sagração da Primavera” de Stravinsky (1882-1971), com coreografia de Nijisnki (1889-1950), chocando a sociedade parisiense. Um balé de quatro horas e meia de duração, que em nada trazia a beleza dos balés da época. O espetáculo foi vaiado e muitos deixaram o teatro sem ver o final.

A sagração de Stravinsky mostra uma primavera que nada tem de belo. “A primavera, para os povos antigos, é a estação mais violenta e agressiva, porque nesse período são feitos os sacrifícios humanos. Inclusive a obra de Stravinsky tem no final o sacrifício de uma virgem”, disse.

“A vida toda é dura, e, por mais que seja bonita por fora, é violenta por dentro. Então, de novo a arte parece que está um passo à frente para entendermos todas essas modificações históricas e estruturais.”

O novo século começa com uma batalha sem precedentes, a Primeira Guerra Mundial, deixando milhões de mortos e um sem-fim de mutilados, além de uma Alemanha prostrada, que depois buscaria se reerguer pelo trágico caminho do nazismo. A gripe espanhola, também na mesma época, matou mais de 50 milhões de pessoas no mundo. Na Rússia de 1917, ocorre a revolução soviética. As certezas foram devastadas.

Quebra de paradigmas
Essa ausência de certezas foi levada à arte por Marcel Duchamp, expoente do dadaísmo. O professor cita a obra a “Fonte”, que é um urinol. “Se tudo perdeu a certeza, a referência e o valor, a obra de arte também. A arte é vida, e o belo não está mais presente porque a vida não é mais bela”, explicou o professor.

Na arquitetura, surge a escola alemã Bauhaus, mudando totalmente o padrão da técnica e design. Nas artes vêm Picasso, Paul Klee, Kandinsky.

“Todo esse momento está começando a ser efusivo, louco, porque as certezas caíram, a única certeza é sua vida do dia, sua loucura do dia”, disse.

É também um momento de grande libertação feminina, com ícones como a cantora Josephine Baker e a estilista Coco Chanel. E figuras irreverentes, como a tenista Suzanne Lenglen.

“Ela entrava nas quadras com casaco de vison, tomando seu Dry Martini e ganhava de todas. Jogava com trajes de melindrosa, tomava conhaque e fumava, e ainda chocava a plateia com movimentos ousados”, explicou o professor.
Paris, no que era seu lado pobre, vira o epicentro de toda essa euforia dos anos 1920, porque o câmbio favorecia a vinda de estrangeiros, que podiam permanecer nas imediações do Quartier Latin por longos períodos e a baixo custo. Os cafés fervilhavam de gente, de ideias.

Do outro lado, nos Estados Unidos, as mulheres lutavam pelo voto, e o país vivia sua Lei Seca, tendo Al Capone como a figura histórica que driblava as restrições.

Mas os anos 20, tão eufóricos, vão terminar de forma sombria. Enquanto a crise econômica assola os Estados Unidos, as ideias totalitárias se espraiam pela Europa. Virão o nazismo, o fascismo e os conflitos que desembocarão, finalmente, na Segunda Guerra Mundial. Será o fim da euforia, da alegria, do carpe diem.

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