Clube de Leitura mostra a genialidade de Eça de Queirós, revelada com detalhes em “Os Maias”

19 de outubro de 2021

Convidado especial do encontro de outubro do Clube de Leitura da Apamagis, o professor português Carlos Reis disse que no livro “Os Maias”, de Eça de Queiros, “nada está ali por acaso, nem o que é dito, nem o que é omitido”. Se logo no início o autor não revela, por exemplo, as letras e a data junto do ramalhete de girassóis no revestimento de azulejos na fachada da mansão da família, há uma razão para isso.

“Por que razão Eça não disse? Porque há sentidos ocultos, não lidos, que têm de ser descobertos na medida em que o romance avançar”, explicou o professor Carlos Reis, catedrático jubilado da Universidade de Coimbra e especialista na obra de Eça de Queirós, para uma plateia online com 64 participantes, entre eles a escritora Maria Adelaide Amaral.

Autora da adaptação do livro para a minissérie homônima da Globo, ela fez questão de participar e destacar Carlos Reis como um dos maiores estudiosos de Eça de Queirós. Disse também que nunca foi tão fiel a um livro, numa adaptação televisiva, como a “Os Maias”. “Minhas intervenções foram mínimas”, disse.

Jogo hábil

“’Os Maias’ tem muito de identitário e histórico”, disse Carlos Reis, explicando que a obra “mostra como uma família se relaciona com o tempo dessa história, a decadência nacional e como vive além do sentido do tempo da morte e do desaparecimento de valores que pareciam eternos”.

O autor também se vale dos cenários descritos para enriquecer a história. Carlos Reis lembrou que, no final, Carlos da Maia regressa a Lisboa e não encontra mais a praça dos restauradores na cidade. “Há um jogo hábil com essa mudança arquitetônica, como se fosse uma tentativa de renovação. Eça de Queirós jogou muito bem com as mudanças arquitetônicas e urbanísticas de Lisboa, para carregar de sentido ao mesmo tempo em que introduzia Carlos da Maia nesse episódio”, argumentou.

Romantismo

Carlos Reis também destacou os personagens, em especial um deles: Tomás de Alencar, amigo de Pedro da Mata. “Este poeta, Tomás de Alencar, que é o protótipo do poeta romântico, tem aqui uma importância maior do que parece à primeira vista. Não é o protagonista, não intervém em momentos decisivos, mas há uma presença importante do Tomás em ‘Os Maias’. É que ele está lá sempre com a presença persistente do romantismo”, contou.

Para explicar melhor, citou três passagens do poeta em momentos diferentes. No primeiro capítulo, aparece na cena em que Pedro da Maia vê Maria Monforte pela primeira vez. Tomás, jovem e alto, de bigodes negros e vestido de negro, aparece fumando perto de um prédio. “O negro marca o caráter sombrio do romantismo”, argumentou.

No capítulo 6, no tempo de Carlos da Maia, Tomás aparece de bigodes grisalhos, e, no capitulo 18, com longos bigodes românticos, embranquecidos. “Esta é uma forma de fazer uma ligação estreita entre personagens e o tempo, e mostrar que através deles o tempo vai passando”, disse Carlos Reis.

Na opinião do convidado, “Os Maias” é um clássico, e entre as definições sobre o que seria um clássico, disse: “Um clássico é alguma coisa, escritor ou obra, que persiste como ruído de fundo, não mais nos abandona. Nós continuamos a ouvi-lo.”

Próximos encontros

O próximo Clube de Leitura da Apamagis será sobre o livro “O Coronel Chabert”, de Honoré de Balzac, no dia 3/11 (quarta-feira), às 19h, com participação da escritora Vivian Schlesinger. Em dezembro, será a vez de “Antígona”, de Sófocles, no dia 7/12, às 19h.

Haverá uma pausa em janeiro, e as atividades serão retomadas em fevereiro, com o encontro do dia 1º/2/2022 (terça-feira), às 19h sobre “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes.

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