Clube de Leitura de setembro discute “O filho de mil homens”, de Valter Hugo Mãe
O Clube de Leitura da Apamagis debateu, no último dia 2/9, “O filho de mil homens”, livro do Escritor Valter Hugo Mãe. O encontro teve como palestrante a Professora Tati Fadel, graduada em Letras e mestrado em Educação pela Unicamp, e mediação da Juíza Adriana Albergueti Albano.
“O filho de mil homens” — lançado em 2012 e uma das obras mais reconhecidas e, possivelmente, uma das mais belas do escritor luso-angolano — é dedicado às crianças e aborda a importância do sentimento humano e das relações criadas e cultivadas por nós. O escritor — que discutiu a adaptação cinematográfica do livro na última Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) — relata a história do pescador Crisóstomo, da jovem Isaura, do órfão Camilo e do sensível Antonino.
Embora não pareçam entrelaçadas, cada história forma um quebra-cabeça surpreendente. Crisóstomo é um homem pela metade, que busca um filho a fim de dar-lhe amor. Camilo é o órfão de uma pessoa com nanismo, recusado e até esquecido pela fictícia vila litorânea. Isaura é uma mulher renegada, enjeitada por não ser virgem, que viveu grande parte da sua vida em luto e melancolia. Antonino, por sua vez, tem sua própria beleza, um homem sensível — homossexual, que sofre com o estigma da cidade.
Figuras enjeitadas
Segundo a análise de Tati Fadel, os personagens, de alguma forma, foram um painel de grande dramaticidade. “São todos deslocados, não aceitos, doloridos, que sofrem. Figuras enjeitadas, que se juntam em torno de Crisóstomo, para quem o amor é o caminho para que toda essa destruição, ruínas de pessoas consigam se reerguer e constituir uma família”, afirma.
Cada caso é exemplar. Órfão de Ana, Camilo passa pelas perdas da mãe e sofre com o abandono após a morte do pai. Sua mãe, por sua vez, é submetida a um tipo der estupro representado pelo sexo sem amor. Matilde sente-se quebrada, sobretudo pela perda do marido, pela viuvez e por crer que não cumpriu o seu papel de mãe, pois, em razão do julgamento e das agressões ao filho, ela reprime fortemente os sentimentos de Antonino.
Autor de obras como “Serei sempre o teu abrigo”, “O paraíso são os outros”, “A máquina de fazer espanhóis”, “O remorso de Baltazar Serapião”, o romance de Valter Hugo Mãe, segundo a palestrante, vai além da preocupação com uma criação estética e literária. Faz parte de um projeto cultural.
“Para ele, o leitor deve sair do livro com algum tipo de humanização. Trata-se do primeiro livro dele otimista, com final positivo. É o primeiro livro em que o protagonista não é alguém desumanizado, violento. Crisóstomo não está no lugar da violência. É um agente humanizador.”
‘Só o amor ao próximo salva’
Neste sentido, Tati Fadel afirma que uma das grandes lições de “O filho de mil homens” se relaciona ao fato de apontar para o caminho do afeto, amor, alteridade. “Não existe uma negação da realidade violenta e conhecida da opressão em uma sociedade misógina, homofóbica. Na verdade, é um livro cristão, de um cristianismo primitivo, não institucional. Só o amor ao próximo salva. A figura do Crisóstomo é a de uma espécie de salvador no sentido de conseguir ter um amor incondicional”, diz a Professora.
Frente ao fato de que, para quem vive no distópico e desesperançado mundo da contemporaneidade, “O filho de mil homens” possa parecer uma obra ingênua, que aponta o amor como forma de tudo curar, a palestrante aponta outros caminhos. “Não podemos ler o livro com qualquer pretensão de que ele não seja uma utopia. Ele é utópico, idealizado […], mas as palavras da gente são poderosas na construção do outro, na construção da realidade […] Conhecemos o poder transformador da palavra”, pondera a Professora Tati Fadel.
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