Delegada diz que relação com a imprensa é via de mão dupla: “Eles precisam de nós, e nós precisamos deles”

A live da série “Casos Midiáticos: Justiça X Imprensa”, realizada nesta quarta-feira (25/8) à noite, teve como convidada a delegada de Polícia Civil do Paraná Fernanda Moretzsohn. Com especialização em Direito Público e Direito LGBTQIA+, a delegada títular do município de Toledo é também professora universitária e palestrante sobre violência de gênero.

A condução da live foi feita pela diretora de Imprensa da Apamagis, Carolina Nabarro Munhoz Rossi, que iniciou a conversa contando como é delicada a relação entre mídia e Poder Judiciário. “A imprensa quer passar a informação para a população, e a Justiça desperta muito o interesse da população, principalmente nesses casos muito midiáticos.”

Carolina Nabarro também indagou a convidada sobre como se dá a relação dos delegados com a imprensa. Segundo a magistrada, os juízes têm muitos impedimentos para falar com a mídia, o que é um pouco diferente com os delegados. Para Fernanda Moretzohn, o acesso a uma delegacia e ao chefe do Departamento de Polícia é mais fácil do que a um juiz. “É muito mais simples o jornalista chegar na delegacia e ter conhecimento dos fatos, que, geralmente, ocorrem ali naquele momento. Dependendo do caso, os jornalistas já estão todos ali na porta da delegacia. Há até um plantão da imprensa no DP. Então, o acesso é muito mais fácil aos delegados do que aos juízes.”

Fernanda Moretzohn disse que os casos de polícia costumam chamar muito a atenção das pessoas e, inclusive, há programas jornalísticos que só cobrem esse tipo de acontecimento. “As pessoas assistem esses programas não só para se informar, mas também como uma forma de entretenimento. Infelizmente a violência é um entretenimento.”

Sobre questões divulgadas pela mídia, mas que não deveriam, a delegada contou que, felizmente, na sua carreira nunca houve esse tipo de problema porque ela desenvolveu uma boa relação com a imprensa da região. “O jornalista chega para mim e diz: tenho essa informação aqui, posso publicar? E eu avalio se pode ou não. Então, desenvolvi essa boa relação com a mídia local, o que é muito importante, porque assim como eles precisam da gente para ter a informação nós também precisamos deles para divulgar o nosso trabalho e manter a população informada. É uma via de mão dupla.”

No entanto, Fernanda Moretzsohn ressaltou um caso em que não divulgou para a imprensa a pedido da vítima. “Não só por respeito a ela, mas também pelo segredo de Justiça. Foi um crime supergrave que a imprensa só ficou sabendo um mês depois por iniciativa da vítima. Mas o caso já havia sido relativamente solucionado – ela e eu falamos com os jornalistas.”

A delegada destacou a importância dessa boa relação com a mídia por conta da informação e educação da população, que também é de responsabilidade da imprensa. “Especialmente na questão de violência doméstica, quando tem a prisão de um agressor por descumprimento de ação judicial que deferiu medidas protetivas, é importante divulgar para mostrar à população e aos agressores que a lei funciona e é efetivamente cumprida.”

A juíza Carolina Nabarro também citou o caso recente de violência doméstica envolvendo uma celebridade, o DJ Ivis, que teve grande repercussão. Para ela, a enorme divulgação desse caso e dos meandros do processo pode ter ajudado muitas mulheres a criarem coragem para sair do ciclo de violência.

Fernanda Moretzsohn concordou e disse ainda que quando há um caso de violência doméstica de grande repercussão a demanda aumenta na delegacia de notificações desse tipo. “As pessoas percebem que indo à delegacia e será atendida por outra mulher, terá um atendimento especializado, e o caso será resolvido. Muitas vezes, a mulher também achava que não era vítima de violência até saber de algum caso midiático. Ela se vê no lugar daquela mulher e toma a iniciativa de denunciar.”