Live sobre a Consciência Negra tem debate com falas contundentes e emocionantes
Acompanhada por mais de 100 pessoas durante a transmissão e com 622 visualizações no canal do YouTube apenas quatro dias depois, a live em homenagem ao “Dia da Consciência Negra”, promovida pelo Projeto Magistrais, da Apamagis, na última sexta-feira (20/11) à noite, teve muita reflexão e falas contundentes e emocionantes.
O encontro foi capitaneado pela presidente da Apamagis, Vanessa Mateus, que nesta live preferiu reduzir sua participação no vídeo para dar mais espaço aos convidados: os juízes do TJSP Flávia Martins de Carvalho e Jarbas Luiz dos Santos, e o professor da FGV-RJ Wallace Corbo.
Flávia Martins de Oliveira iniciou o debate questionando qual seria seu público nesta live, já que no Judiciário paulista hoje há cerca de 60 juízes negros dento do TJSP, entre os 2.450 na ativa.
Fazendo um comparativo com o que acontece na sociedade como um todo, afirmou ser possível que o tema também não despertasse interesse dentro da Magistratura, já que muitos no Brasil não acreditam que exista racismo e outros entendem que ele existe, mas não dão importância ao tema por não se sentirem atingidos por ele.
A magistrada afirmou disse que o racismo afeta a todos, porque faz a sociedade ser construída sobre pilares da desigualdade, e que o enfrentamento só é possível com o engajamento de todos na defesa dos valores constitucionais.
O corpo fala
Como juíza, Flávia Martins de Oliveira disse que integra uma porção privilegiada da sociedade, mas não escapa da discriminação. “Um corpo negro antecede qualquer fala. Quando entro em algum lugar, não mostro carteira de juíza, é meu corpo que entra, e, quando meu corpo entra em qualquer espaço, eu sou lida como um corpo negro. E um corpo negro lido, um corpo racializado e colocado em uma condição de inferioridade. É uma realidade”, constatou. “Poderia contar um rosário de casos das inúmeras vezes em que mesmo me identificando com juíza, com carteira na mão, não fui identificada como juíza. Isso porque no imaginário uma mulher negra não é lida como juíza.” Para a magistrada, só o engajamento de todos pode mudar essa realidade e desconstruir esse imaginário.
Em seguida, o advogado e professor Wallace Corbo lembrou o vídeo divulgado aquele dia de um homem negro sendo espancado até a morte dentro de um supermercado: “Era o Beto, acordamos hoje com a notícia de mais um homem negro morto. São pessoas negras sendo mortas e que a sociedade olha para essa pessoa sendo morta e pergunta o que ela fez, no lugar de perguntar o que fizemos ou o que alguém fez com essa pessoa”, questionou.
“É muito difícil ter essa empatia tão distante, porque apesar de todos os dias vermos pessoas negras sendo mortas, não internalizamos essas mortes. Parece que é o comum, o normal, e a empatia não se cria.”
Wallace Corbo disse que queria falar de orgulho e potência, mas era obrigado a falar de tragédia, e que não esquece Beto, Marielle, Ágata e tantos outros.
Refúgio na solidão
Um dos pioneiros entre os negros na Magistratura, Jarbas Luiz dos Santos disse que se recolheu na solidão para encarar o dia a dia. “Eu sempre trouxe comigo o pensamento de uma grande filósofa do século 20, a Hannah Arendt, que nos dizia que ‘jamais se está menos só quando se está na solidão consigo mesmo’. Em muitos momentos na Magistratura, enfrentei determinadas situações com certa desenvoltura porque essa solidão comigo mesmo me motivou a isso. Foi um alento durante esses mais de 20 anos de carreira”, disse.
Formado também em Filosofia, o magistrado havia sido convidado para falar sobre Literatura. E lembrou de Machado de Assis, um negro que passou por um “processo de embranquecimento” devido ao preconceito.
“Neste dia da Consciência Negra, a discriminação racial que é um dos aspectos mais presentes na realidade discriminatória brasileira precisa ser refletida, denunciada e, sobretudo, repudiada. Devemos ter esse sentimento de empatia diante de alguns atos que acontecem. Do contrário, daí vou aderir à tese machadiana, se não tivermos o mínimo de condições de ter sentimento de empatia, talvez sejamos ainda piores que Brás Cubas, talvez estaremos transmitindo o legado da miséria humana”.
Vanessa Mateus encerrou a live lamentando também a morte do homem negro no supermercado. Disse que, embora o caso tenha sido acolhido com certa normalidade na sociedade, houve várias manifestações de presidente e ministros do STF, presidentes de tribunais e dos próprios convidados.
A presidente da Apamagis agradeceu os convidados e disse que a live “foi, de fato, emocionante”. “Eu me emocionei várias vezes aqui e os colegas também”, finalizou.
Assista à live na íntegra:
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