Livro ‘É Isto um Homem?’, de Primo Levi, vai além do óbvio ao discutir condição humana no holocausto
O livro “É Isto um Homem?”, de Primo Levi, traz as memórias do autor judeu italiano durante o período em que esteve preso no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia, durante a Segunda Guerra. Partindo dessa sinopse, o leitor pode ter a sensação de já saber de antemão o que lerá, pois o livro abarca um tema tão debatido, o holocausto. No entanto, as discussões do Clube de Leitura da Apamagis em 3/9 apontaram como a obra supera a suposta obviedade ao lançar seu olhar à condição humana.
Afinal, a pergunta “É Isto um Homem?”, que dá título à obra na edição brasileira, a quem se refere? A um prisioneiro ou a um guarda alemão? Ou a um nazista? Ou está se referindo a toda a estrutura de aniquilamento? Palestrante neste Clube de Leitura, o escritor e fundador do Jornal Rascunho, Rogério Pereira, trouxe à baila essa discussão já no início do encontro, mediado pela juíza Danielle Martins Cardoso.
“Por que o livro nos enreda e nos comove tanto? Por que nos faz ler essa narrativa que é supostamente conhecida? Por que dificilmente deixamos de ler, por mais pesado, agônico e triste que seja? Pelo simples motivo de que não é um livro sobre holocausto ou Auschwitz. É isso também, mas é um livro sobre a condição humana, o ser humano, de como ele consegue, a partir de estratégias, aniquilar ou tentar aniquilar o próprio ser humano.”
Essa aniquilação acontece já, de pronto, pelo fato de o preso não estar mais em casa. “isso é muito forte no livro. Auschwitz é a destruição total do ser humano. Você aniquila não só matando, mas tirando nome, tudo de humano. E quando falam que você não está mais em casa, isso é muito importante dentro da narrativa, porque a casa representa proteção, aconchego, família. É o espaço onde você é humano e tem uma coisa muito cara, que é a privacidade.”
Como conta Primo Levi, ali não havia “porque”: os prisioneiros eram impedidos de fazer qualquer pergunta nesse sentido. “Quando não há resposta, você relega todos à mais completa escuridão”, disse o palestrante.
As memórias do horror não surgem derramadas em adjetivos. Primo Levi, ao contrário, não faz muitas idas e vindas no texto e opta por frases concisas e fáceis de entender, mas não por isso menos impactantes. Rogério Pereira destaca a descrição do pavor vivido pelos prisioneiros com a proximidade do inverno:
“Com todas as nossas forças, lutamos para que o inverno não chegasse. Nos agarramos a cada hora tépida; a cada crepúsculo, procuramos reter o sol ainda um pouco no céu, mas tudo foi inútil. Ontem o sol se pôs irrevogavelmente num emaranhado de névoa suja, de chaminés, de cabos, e hoje é inverno.
Sabemos o que isso significa, porque estávamos. aqui no inverno passado, e os outros vão aprendê-lo depressa. Significa que, no decorrer destes meses, de outubro a abril, de cada dez de nós sete morrerão. Quem não morrer sofrerá, minuto a minuto, durante cada dia, todos os dias…”
Primo Levi escreveu o livro como uma forma de extirpar sua dor. “Daí, seu caráter fragmentário: seus capítulos foram escritos não em sucessão lógica, mas por ordem de urgência. O trabalho de ligação e fusão foi planejado posteriormente”, escreve o autor no primeiro capítulo.
Foram 11 meses de terror nazista. Primo Levi deixou o campo de concentração em janeiro de 1945, mas percorreu um longo caminho, durante nove meses, até chegar a sua casa, em Turim, na Itália, história que mais tarde lhe renderia o livro “A Trégua”. Começou a escrever “É Isto um Homem?” um ano depois de ter vivido o holocausto. A obra foi publicada quase três anos após sua libertação.
“Ele ficou muito tempo com alcunha de químico sobrevivente de Auschwitz, mas queria ser reconhecido como escritor”, disse Rogério Pereira. “Primo Levi é um autor poliédrico, que passa pela autobiografia, pela poesia e escreve contos, romances e ensaios. Ele se espalha por vários gêneros e durante a vida toda vai tentando buscar reconhecimento como escritor, o que chega, finalmente, pelo talento que tem”, disse Rogério Pereira.
Depois da guerra, Primo Levi trabalhou como químico – sua área de formação – e se aposentou. Não escondia a vergonha da sorte que sentia por ter escapado vivo de Auschwitz enquanto tantos outros sucumbiram – um sentimento comum a muitos ex-prisioneiros. Em 11 de abril de 1987, aos 67 anos, Primo Levi foi encontrado morto no prédio onde morava, em Turim, após ter despencado três andares no vão da escada, em circunstâncias desconhecidas. A Polícia local trabalhou com a hipótese de suicídio.
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