Livro “Lolita”, de Nabokov, provoca discussão sobre caráter dos personagens
Visões diferentes sobre a personalidade de Lolita, protagonista do livro homônimo de Vladimir Nabokov, e o tabu que cerca a obra, aqueceram o debate no Clube de Leitura da Apamagis realizado na terça-feira (2/2). O encontro, mediado por Danielle Martins Cardoso, contou com 63 participantes e presença da convidada, a escritora Vivian Schlesinger.
Lolita, na obra lançada em 1955, é uma menina de 12 anos que se vê envolvida em uma relação com seu padrasto, o professor de meia-idade Humbert Humbert. Depois da morte da mãe dela, os dois fazem juntos uma longa viagem de carro pelos Estados Unidos.
A ideia de que Lolita foi vítima prevaleceu, embora para parte dos leitores a menina também parecia demonstrar capacidade de seduzir. “Não existe solução fácil, um julgamento sobre os personagens”, disse Vivian Schlesinger durante o encontro.
O cartaz do filme homônimo de 1962, dirigido por Stanley Kubrick, em que Lolita aparece de batom vermelho, óculos na mesma cor, em formato de coração, é, na opinião de Danielle Martins Cardoso, reducionista, pois apenas sugere uma garota sedutora.
Nos debates, foi lembrado que Lolita chorava todas as noites sentindo a falta da mãe e demonstrando a fragilidade de uma criança.
Casos reais
Magistrados recordaram casos reais com os quais tiveram de lidar na judicatura, apontando semelhanças entre Humbert Humbert e pedófilos reais. Para o personagem de Nabokov, Lolita seduzia. Para criminosos reais, as culpadas eram as vítimas, porque os deixava tentados.
Danielle Martins Cardoso destacou, porém, que Nabokov é sutil em suas colocações. “Na forma como descreve o sensual, não há vulgaridade”, disse.
Clássico da literatura
Para o escritor Mafra Carbonieri, titular da cadeira 26 da APL (Academia Paulista de Letras), a obra de Nabokov é um clássico. “Um escritor tem que ter esse livro na mesa constantemente, para ver por exemplo como ele fez o retrato de uma personagem, como representou o desejo, como apresenta as sutilezas da narrativa”.
“Não sei em que página ele fala sobre a verdadeira epifania da revelação de se dirigir na contramão. O livro dele é uma espécie de direção na contramão. Ele pega um tema tabu, desenvolve e constrói uma grande literatura”, disse Mafra Carbonieri.
Legado de Nabokov
E se obra, com toda sua qualidade, influenciou uma série de autores, fez também glória e miséria de Nabokov, que ganhou todos os holofotes com “Lolita”, mas teve todas as suas demais obras relegadas à sombra desse estrondoso sucesso.
Como Vivian Schelsinger mostrou, Nabokov escreveu 20 romances, uma autobiografia, oito livros de contos, oito de poesia, nove peças de teatro, um roteiro de cinema e 11 livros de ensaios, além de traduções.
A próxima edição do Clube de Leitura será realizada no dia 2/3, às 19h, tendo como tema o livro “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert.
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