Palestra analisa a Semana de Arte Moderna de 1922

3 de março de 2022

O Departamento Cultural da Apamagis promoveu, no último dia 22/2, uma palestra virtual em comemoração aos 100 anos da Semana de Arte Moderna. Como palestrante foi convidado o professor e doutor em História pela Unicamp Felipe Martinez. Ele fez uma análise panorâmica da Semana de Arte Moderna, realizada entre 13 e 17/2 de 1922, no Teatro Municipal. O professor abordou obras de alguns dos principais artistas plásticos da época, como Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral – que embora não tenha participado da Semana se filiou ao movimento liderado pelos escritores Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Felipe Martinez discutiu ainda o contexto histórico no qual o movimento ocorreu, sua contribuição para uma visão específica de brasilidade e a influência da Semana para a cultura brasileira do século XX.

A Europa de inícios do século XX viveu inúmeras mudanças em seu modo de vida que se refletiram na arte. Vieram à tona as vanguardas artísticas e, com elas, a consolidação da modernidade que acabou por influenciar vários artistas nacionais. O Brasil, por sua vez, também começava a se modernizar – eram montadas as primeiras indústrias na cidade de São Paulo, e a produção de café do Interior paulista gerava receita de exportação, transformando o Estado em novo centro econômico do País.
“A Semana de 22 vai trazer uma ideia que se consolidará ao longo do tempo de colocar um aspecto nacional lado a lado com desenvolvimentos artísticos que vinham da Europa. A arte moderna, que começa na Europa no final do século XIX, se pretendia universal. Os modernistas visavam essa ideia, mas com um conteúdo, uma linguagem que falasse do Brasil. Há nisso algo universal e particular”, afirmou o professor.

No início do século, na Alemanha, Anita Malfatti entrava em contato com o expressionismo e a distorção consciente da realidade. Sua obra “A Estudante”, criada entre 1915 e 1916, e duramente criticada pelo escritor Monteiro Lobato – um notório antimodernista – despertará em jovens intelectuais como Mário, Oswald de Andrade e Menotti Del Picchia uma espécie de movimento de reação. “Anita é uma das artistas mais talentosas da arte brasileira. E é a partir de críticas de escritores como Lobato, entre outros, que aqueles vão começar a se unir em um grupo presente na Semana de Arte Moderna de 1922”, apontou.

Tarsila e Portinari são duas das figuras mais célebres da Semana e do modernismo no Brasil. Filha da aristocracia cafeeira paulista, a criadora de obras como “A Negra”, “Abaporu”, “Operários” e “Urutu”, entre outros, frequenta desde cedo, mesmo que por curtos períodos, o cenário expressionista europeu. “Ela e outros artistas brasileiros eram incorporados ao ambiente artístico europeu em uma espécie de chave do exótico. Quando estes artistas vão à Europa, entendem que não são europeus. Oswald diz que se descobre brasileiro na Europa. Quando Tarsila vem de Paris e passa o carnaval de 1924 no Rio de Janeiro, na obra ‘Carnaval em Madureira’, ela coloca a famosa Torre Eiffel no meio da favela carioca. É uma síntese desse espírito”, destacou Felipe Martinez.

O professor enfatiza que o projeto do modernismo, que está em torno da Semana de 1922, vigora pela década de 1920. Mas o Brasil se modifica, se industrializa. Explode o êxodo rural. A população das cidades cresce. Com o advento da Era Vargas, a partir da Revolução de 1930 surge uma nova ideia de modernismo. “Essa ideia também está presente em obras de artistas como Di Cavalcanti. Quando se observa a obra ‘Cinco Moças de Guaratinguetá’, descobrimos a incorporação de algumas inovações formais presentes desde o cubismo de Picasso e de Bratke, do começo do século. São temas locais com uma linguagem internacional da arte moderna”, explicou o professor.
O Brasil dos anos 1950, os chamados “Anos JK”, já é um país de grande desenvolvimento econômico. A partir do Estado Novo de Getúlio Vargas e dos anos 1950, o modernismo também surge como uma espécie de cultura oficial:“Portinari, talvez do ponto de vista da pintura, tenha sido um dos mais promovidos pelo governo. Na obra ‘Retirantes’ ele é influenciado pelo expressionismo e mostra um pouco desse triste Brasil e suas desigualdades regionais”. Em uma visão retrospectiva, o legado do modernismo e suas obras vai parar nas bienais de arte e nos principais museus brasileiros de arte moderna. “O marco dessa história foi a Semana de Arte Moderna de 1922”, concluiu Felipe Martinez.

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