Palestra sobre o século XIX aborda ascensão e queda de Napoleão, o nascimento do socialismo e o legado de grandes escritores
O Departamento Cultural da Apamagis promoveu nesta terça-feira (24/5) uma palestra especial sobre o “Século XIX: de Napoleão a Nietzche”, proferida pelo historiador, escritor e produtor Guilherme Almeida. O evento, transmitido pela plataforma Zoom, exclusivamente para associados inscritos, atraiu um número significativo de participantes e teve a duração de mais de duas horas sobre um dos séculos mais conturbados da história da humanidade.
O encontro passado dos associados com o professor Guilherme Almeida foi durante a palestra “Os Loucos Anos XX” (confira aqui), de onde se originou o tema do encontro de terça-feira. “Napoleão já sintetizou um pedaço do nosso último encontro sobre século XX, e esta palestra é o entremeio do nosso primeiro e do último encontro. Este século merece muita atenção porque o que vemos muitas vezes na nossa realidade são sintomas de séculos passados que tratamos como causas dos problemas.”
Guilherme Almeida ainda retrata Napoleão Bonaparte não só como um personagem do “complexo, amplo e visceral século XIX” Segundo o professor, Napoleão “não é um filho da época moderna apenas, mas uma ideia de vanguarda e de novos ares, apesar de violentos”. E definiu Napoleão, com sua violência nata, invadindo os anos 1800, e Nietzche, fechando o século, morrendo, inclusive, no ano de 1900, como espíritos aflitos do século XIX,. Então quando escolhi esse título foi para amarrar essas duas pontas deste século”, explicou o historiador sobre a temática da palestra.
Goethe e o fim do Século XVIII
O professor comentou que o século XIX, além de visceral, foi uma era de grandes escritores e destacou o alemão Wolfang von Goethe. “Goethe foi um dos maiores escritores, pensadores, ensaistas. Ele está na transposição do século XVIII para o XIX e é autor de obras magnificas, como Fausto.”
No entanto, Guilherme Almeida explica que essa geração de escritores busca um retorno de um certo misticismo, abandonado no século passado, pelas ideias iluministas de Voltaire, Russeau, Montesquieu, entre outros. “São os grandes nomes de uma estrutura que rompe com os padrões de pensamento e contribuem para o desenrolar deste século visceral que é o século XIX.”
Goethe, segundo o palestrante, traz de volta uma ideia cristã, de valores inalterados na cultura humana. “O mundo está cada vez mais racionalista – o racionalismo do século XVIII, o cientificismo do século XIX –, e Goethe é o último nome que vai começar a dividir sua existência com a figura do grande caporal de Napoleão Bonaparte.”
A crise da Revolução Francesa e ascensão de Napoleão
Napoleão Bonaparte surge nas entranhas da Revolução Francesa, “quando os revolucionários francesses, comandados por Robespierre, perderam a mão na segunda fase da revolução. Napoleão surge nessa fase, no terceiro e último períodos, chamada de Diretório, que tinha uma política arquitetada pelos girondinos e contava com o irmão de Napoleão, Lucien”.
Outro ponto importante da ascensão de Napoleão foi quando ele ganhou notoriedade como grande comandante do exército francês em uma derrota. “Napoleão é o típico caso de estudo em que uma derrota faz o herói. Foi na batalha da ponte de Arcole, onde o porta-bandeira da infantaria foi morto. Com a bandeira caída, a tropa não sabia para onde ir, e Napoleão a ergue e puxa os soldados. Eles vencem essa pequena batalha, mas perdem depois em Verona. Na volta para a França, há manifestações no exército, do qual ele é o grande comandante. O nome de Napoleão começa a ser escrito nessa história militar da França.”
França X Inglaterra
O século XIX é marcado também por um grande conflito geopolítico e ideológico entre duas potências europeias, Inglaterra e França, naquele momento: “Por mais que a Inglaterra fosse desde 1642 uma ideia de monarquia parlamentar, ela não namora com as da Revolução Francesa de democracia. A Inglaterra vê os revolucionários franceses como uma pedra no sapato”.
Por outro lado, a Inglaterra, segundo o palestrante, é a inimigo a ser destruída pelos revolucionários franceses. “A nação é o símbolo que os revolucionários querem destruir, mas nunca vão conseguir; nem Napoleão nem Hitler conseguiram.”
Como uma grande e protegida ilha, a Inglaterra se mantém ao longo de todo período em que Napoleão Bonaparte, incessantemente, tenta invadi-la. “A Inglaterra se faz uma grande potencia naval, fortemente blindada por causa da Marinha Real. E Napoleão, mesmo com seu poderio de exército, seja na Revolução Francesa, ou já como Imperador, não consegue invadir a ilha.”
Portugal e o Brasil entram na história do século XIX
Como não consegue invadir a Inglaterra, Napoleão toma a decisão de impor que qualquer país que fizer comércio com a ilha seja invadido. “Já que não consigo invadir a Inglaterra, vou sufocar a economia de quem fizer negócio com eles. E assim Napoleão tentou”, contou.
Mas Napoleão não contava com a astúcia de Dom João VI, de Portugal. “Aquele que era visto como um reizinho da Europa, conseguiu o bloqueio continental de Napoleão. Dom João precisava fazer valer um dos vários acordos que tinha com a Inglaterra”, comentou o palestrante.
Esse movimento de Dom João XVI faz com que Napoleão tome a decisão de invadir Portugal, e, assim, a Corte portuguesa vem para sua colônia, o Brasil. “A esquadra inglesa faz a escolta da família real para o Brasil, em 1807, chegando à Bahia em 1808, numa viagem, que dizem, horrível.”
As primeiras ideias socialistas
Um dos principais pontos que marcaram o próximo século, o XX, foi a revolução socialista na Russia, em 1917. Mas a semente dessa revolução é cultivada ainda no século XIX, no âmbito da Revolução Francesa, que é a Comuna de Paris. “Esses revolucionários que ficam em Paris, repletos de conservadores e da aristocracia, têm como livro de cabeceira Os Miseráveis. Eles querem sair daquela condição de miserável. Essa é grande obra da Comuna de Paris, que é a primeira tentativa socialista do século XIX”, disse o historiador.
No entanto, a Comuna de Paris dura apenas 70 dias e seus membros são, de acordo com o professor, “esmagados” pelo poder francês da aristocracia vigente. “Ao lado da Junta Militar Prussiana, mais de 20 mil revolucionários são mortos na França, o que dá origem à Terceira República.”
Os filósofos, os proletários e o socialismo
Para Guilherme Almeida, com a aproximação do século XX, “as massas avançam nesse momento. E Karl Marx usa a palavra proletário, um termo romano, para identificar aquele trabalhador que tinha muitos filhos e os alugava para o Estado romano. É proletário, porque ele negociava sua prole. Então, trata-se de um termo pejorativo ao trabalhador”.
O professor destaca que não é só Karl Marx que trata dessas massas ou desses proletários. “Esse é o fenômeno de massas, muito interessante neste século. Hegel falou, Conte falou, Freud falou, Marx, José Ortega Y Gasset falaram desse movimento da Psicologia das Massas.”
A Psicologia das Massas acaba se tornando o tema de uma obra de Freud, A Psicologia do Eu, como conta Guilherme Almeida. “A psicologia das massas é esse poder escondido dos trabalhadores, que Bakunin e Marx acabam por disputar as atenções dos leitores sobre o tema.”
O socialismo, no entanto, não adquire essa força como ideia capaz de mover essas grandes massas ainda no século XIX. Para o palestrante, essa força só chega mesmo com o avançar das discussões e com a ampliação da sensação de miséria. “O socialismo nasce no século XIX, mas não tem o poder que vem a ter na Revolução Russa de 1917, que dá o tom da transformação de teoria em prática do socialismo em organização política.”
A cultura russa, o movimento expressionista e Nietzche
Guilherme Almeida contou também como foi uma das principais literaturas deste século, a dos russos Fiódor Dostoiévski e Anton Tchekhov. “As obras, incluindo a música, não têm suavidade.” E citou Noites Brancas, de Dostoiésvsk, onde se vê toda a angústia e a violência da existência humana. Eles são fundamentais. É melhor ler o que eles escreveram do que filosofia e história para o entendimento daquele momento.”
E é nesse momento histórico que, como explicou o professor, que o norueguês Edvard Munch pinta uma das obras mais marcantes do século XIX, O Grito. “O grito de um homem que está vendo seu futuro insano, está olhando para dentro e vendo uma coisa sem eira nem beira. Esse homem tem a cabeça como a principal invenção do momento, que é a lâmpada de Thomas Edson. Esse homem esta gritando interna e externamente, Ele não sabe o que ele é.”
Por fim, o professor finaliza a palestra com aquele personagem que deixou para amarrar o fim deste século, o escritor e filósofo prussiano Friedrich Nietzche, um controverso ícone deste final e início de século, que resgata a crítica à religião, a moral e os costumes da época, os filósofos contemporâneos a si mesmo e o cientificismo.
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