Vida em São Paulo inspira Giovana Madalosso, autora do livro “Tudo Pode Ser Roubado”

12 de abril de 2021

Paranaense radicada na capital paulista, Giovana Madalosso disse no Clube de Leitura da Apamagis realizado, virtualmente, nesta terça-feira (6/4) que seu livro, “Tudo Pode Ser Roubado”, “é uma declaração de amor a São Paulo”. Segundo a autora, o olhar de quem vem de fora lhe deu a possibilidade de enxergar detalhes que talvez passem despercebidos aos nascidos na metrópole, e que a vida noturna e as pessoas que conheceu foram inspiradores para a criação da obra.

A conversa, nesta edição, girou principalmente em torno do processo criativo de Giovana Madalosso. Primeiro, a escritora respondeu às perguntas feitas pela mediadora do Clube, a magistrada Danielle Martins Cardoso. Depois, o microfone ficou aberto para os 51 participantes.

Madalosso disse que São Paulo é também um personagem do livro. “A cidade interage com as pessoas. Tem a coisa do isolamento urbano, da dificuldade de haver uma aproximação maior, desse urbanismo que não permite que as pessoas possam estar juntas”, disse a autora. “Não há muita praça, nem muito lugar público. Toda vez que a gente vai se encontrar, sempre tem uma caixa registradora girando, porque você vai ao shopping, tem um estacionamento, o café, o restaurante. É uma cidade tão pouco propícia para uma interação mais calorosa. Para mim parecia um cenário muito bom para falar aquilo que eu queria, que era da solidão e da dificuldade de aprofundar os relacionamentos.”

Giovana Madalosso no Clube de Leitura

Os restaurantes descritos no livro despertaram grande curiosidade. Em conversas no chat do Clube de Leitura, alguns participantes apostaram no Spot, na região da Paulista, como inspiração para o local de trabalho. A autora não foi questionada sobre esse local, mas o público quis saber se o restaurante japonês e o russo de fato existem. “O japonês existe, mas em Tóquio. O russo eu inventei”, disse a autora.

Vazio existencial

A vida noturna na metrópole, que Giovana Madalosso diz ter frequentado antes de se tornar mãe, também a inspirou em várias passagens, assim como a experiência que teve em uma agência de publicidade e aos tipos diferentes que pôde conhecer a partir desse universo.

“Vi uma galera que ganhava muito dinheiro, colecionava arte, tinha coisas de luxo, mas na tentativa de chegar a esse lugar onde todo mundo queria tanto, havia um vazio existencial generalizado. Todo mundo ia comprando uma coisa e outra, e outra, para chegar a lugar algum.”

É justamente por esse universo que transita a garçonete do livro. Funcionária de um restaurante na região da avenida Paulista, ela passa a furtar artigos de luxo de pessoas que conhece casualmente e a vendê-los para a trans Tiana, dona de um brechó. Seu objetivo é conseguir dinheiro para comprar o próprio apartamento.

Seu plano parece ganhar força quando um desconhecido, autodenominado Biel, aparece no restaurante lhe fazendo uma proposta: furtar um livro raro arrematado em leilão por um professor recluso.

Uma vida entre as panelas

A protagonista também carrega um pouco das experiências de Madalosso, chegou a trabalhar como garçonete em Nova York e vem de uma família dona de restaurantes na região Sul. “Meu pai tem um restaurante, minha mãe tem outro, irmão, primos. Cresci no meio das panelas, trabalhei como hostess e garçonete, e fui péssima, e meu próprio pai me mandou demitiu. Mas, de todas essas experiências, tirei o caldo que trouxe para o livro.”

A presidente da Apamagis, Vanessa Mateus, quis saber se o desfecho escolhido para a garçonete trazia alguma punição. “Nunca puniria meus personagens porque sinto muita empatia e pena deles. Gosto de olhar para a vulnerabilidade de cada um”, disse Giovana Madalosso. Ela contou que o professor Cícero foi construído inicialmente como “um cara muito chato”. Numa revisão crítica da obra, acabou reeditando sua personalidade. “Eu não estava tendo um olhar empático”, disse.

A autora paranaense também destacou o uso de tempos verbais diferentes para determinados momentos do livro e revelou outras inspirações para personagens e situações.

O desembargador aposentado e escritor José Fernando Mafra Carbonieri disse que leu “Tudo Pode Ser Roubado” duas vezes e elogiou o trabalho da autora. “Ela entrou na pele da garçonete com muita felicidade, com inteligência e realismo. Li também seu livro de contos, ‘A Teta Racional’, muito bom e bem escrito. A Giovana está em plena juventude e tem uma felicidade que merece ser ressaltada. Ela quer ser ela mesma, não quer ser ninguém, então, é dona de um estilo e o maneja com muita lucidez.”

Próximos encontros

O próprio Mafra Carbonieri ocupará lugar como o de Giovana Madalosso no próximo encontro do Clube de Leitura da Apamagis, em 4/5, às 19h. Na ocasião, ele irá falar sobre seu novo livro, “Um Estudo em Branco e Preto”.

Em junho, o Clube de Leitura volta à literatura russa já visitada por meio de obras de Tolstói e Turguêniev, para debater “Memórias do Subsolo”, de Fiódor Dostoiévski. A professora russa de Literatura Elena Vássina será a convidada dessa edição, agendada para o dia 1º/6, às 19h.

Os interessados podem fazer a inscrição pelo e-mail eventos@apamagis.org.br. Para isso, basta informar nome completo e número de celular.

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