Crítica literária dá aula sobre Shakespeare no Clube de Leitura de dezembro
O Clube de Leitura de dezembro, realizado no dia 1º/12, contou com uma verdadeira aula sobre Shakespeare. A convidada, a crítica literária Elizabeth Cardoso, narrou detalhes sobre a vida e o estilo do autor, o teatro elizabetano e o contexto da época e discorreu sobre a obra eleita para a discussão no grupo, “O Mercador de Veneza”.
Com tanto conteúdo, seguido de bate-papo entre os participantes, o encontro durou cerca de duas horas e meia. Ao todo, havia 40 pessoas na sala virtual. A mediação foi da magistrada Danielle Martins Cardoso.
Elizabeth Cardoso apresentou um Shakespeare criticado à sua época por escrever em inglês e não em latim e por se inspirar em outras histórias, mas que se mostrou genial e se tornou o autor mais lido em países de língua inglesa, perdendo apenas para a Bíblia. A produção dele foi grande: 38 peças, sonetos e poemas.

Vida e obra de Shakespeare exibidos na plataforma Zoom
“A crítica especializada diz que essa peça abre a fase das obras-primas, que são as próximas 17 obras. As que vêm a partir de ‘O Mercador de Veneza’ trazem o Shakespeare que a gente conhece”, disse Elizabeth Cardoso.
Depois de “O Mercador de Veneza” (1594) vieram, por exemplo, “A Megera Domada”, “Hamlet”, “Otelo, o Mouro de Veneza”, “Rei Lear” e “Macbeth”.
Em “O Mercador de Veneza”, o jovem Bassânio recorre ao mercador cristão Antonio para pedir-lhe dinheiro a fim de disputar o posto de noivo da jovem e rica Pórcia.
O comerciante, embora despreze os judeus, recorre a um deles, o agiota Shylock, a fim de tomar empréstimo. Este, por sua vez, exige que em caso da não quitação da dívida, Antonio pague com um pedaço da própria carne.
Quando o mercador sofre um infortúnio e fica sem recursos para pagar, Shylock vai à Justiça para fazer o acordo ser cumprido.
Antissemitismo
Na conversa entre os participantes do Clube de Leitura, vários foram os temas levantados: o papel de Pórcia, um suposto encantamento homoafetivo, a religiosidade, a Justiça e o antissemitismo.
Sobre este último ângulo, foi destacado o trecho do texto em que Shylock responde à pergunta: para que lhe serviria a carne de Antonio?
Ao que respondeu: “Para isca de peixe. Se não servir para alimentar coisa alguma, servirá para alimentar minha vingança. Ele me humilhou, impediu-me de ganhar meio milhão, riu de meus prejuízos, zombou de meus lucros, escarneceu de minha nação, atravessou-se-me nos negócios, fez que meus amigos se arrefecessem, encorajou meus inimigos. E tudo, por quê? Por eu ser judeu. Os judeus não têm olhos? Os judeus não têm mãos, órgãos, dimensões, sentidos, inclinações, paixões? Não ingerem os mesmos alimentos, não se ferem com as armas, não estão sujeitos às mesmas doenças, não se curam com os mesmos remédios, não se aquecem e refrescam com o mesmo verão e o mesmo inverno que aquecem e refrescam os cristãos?”

Orson Welles como Shylock, em curta de 1969, dirigido por ele mesmo
A questão levantada foi se Shakespeare teria, aí, se colocado em defesa dos judeus. Para Elizabeth Cardoso, é possível ler Shakespeare defendendo os judeus e como antissemita, principalmente por causa do desfecho de Shylock.
“É incrível como é um texto que nos toca, a nós, que conhecemos a história que vem depois”, disse a crítica literária, citando o nazismo. “Essa pergunta é extremamente importante e nos leva ao centro da questão: quem é Shakespeare e o que o torna genial? Aí vou a Roland Barthes, que vai dizer que a literatura é o monumento em que cabem todos os saberes. E vou a Vargas Llosa, que vai dizer que uma das missões da literatura é criar empatia. E a gente percebe que os grandes gênios da literatura, Shakespeare, Cervantes, Thomas Mann, Machado de Assis, vão trazer essas perspectivas múltiplas.”
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