O Leopardo, por Paulo Eduardo Razuk

19 de abril de 2023

Paulo Eduardo Razuk

Desembargador aposentado do TJSP                                                                                

Bacharel e Doutor em Direito pela USP

O Leopardo, em italiano Il Gattopardo,  é um romance histórico de autoria de Giuseppe Tomasi di Lampedusa  (1896/1957), publicado em 1958, após a morte do autor. Ele nasceu em Palermo, capital da Sicilia, em uma família aristocrática dos príncipes de Lampedusa, no palácio da família. Casou-se com Alexandra von Wolff-Stomersee, nobre alemã da região do mar Báltico. Recebeu o título de príncipe em 1934, com a morte de seu pai. Em 1954, adotou como filho Gioacchino Lanza Tomasi, que escreveu o prefácio do livro.

O tema da obra é a decadência da aristocracia  siciliana, classe social dominante até 1860, ano em que se desenvolve a ação. É o período da unificação italiana, de modo traumático. Personagem principal é D. Fabrizio Corbera, príncipe de Salina, inspirado no avô do autor, cujo brasão de família ostenta a figura do leopardo. Ele procura manter o seu modo de vida em meio às adversidades, daí que o livro parece ser uma crônica da família do autor.

Até o século XIX, a Itália era uma expressão geográfica, dividida em pequenos estados sem afinidade  entre si, dadas as diferenças étnicas, culturais e econômicas. A unificação foi iniciada pelo Reino do Piemonte, que já abarcava a Sardenha. Aos poucos, foram anexados  Lombardia, Emilia-Romagna, Toscana, Marche e Umbria,  províncias do norte da península.

O sul era formado pelo Reino das Duas Sicilias, com capital em Napoli, onde reinava a dinastia de Bourbon-Sicilia, de origem francesa, assim como a Casa de Bourbon-Espanha, ainda reinante. Abrangia a Campania, Abruzzi e Molise, Puglia, Basilicata,  Calabria e Sicilia. Lá predominava a classe social da nobreza agrária. Dali era proveniente D. Teresa Cristina, esposa de D. Pedro II do Brasil. O rei dizia que o reino era protegido pela água salgada ao sul, leste e oeste;  ao norte pela água benta, isto é, o Estado Pontifício. Ledo engano.

Como um eco tardio da revolução francesa, o carbonário Giuseppe Garibaldi, nascido em Nizza (hoje Nice), que integrava, assim como a Savoia, o Reino do Piemonte, antes de serem cedidos à França, desembarcou em Marsala, ao sul da Sicilia, à frente de uma tropa de aventureiros e mercenários, dando início à guerra que terminaria com a anexação do sul da Itália ao Reino do Piemonte, então com capital em Turim. Depois, foram anexados o Veneto, tomado à Áustria,  e o Lazio, com o fim do Estado Pontifício, que ficou confinado ao Vaticano, situação definida em 1929, com o Tratado de Latrão entre  a Santa Sé e o Reino da Itália, com capital em Roma.

A expansão ainda continuaria com a ocupação da Ístria após a primeira guerra mundial e com a conquista da Líbia, da Etiópia, da Eritréia e da Somália, territórios perdidos com a derrota na segunda guerra mundial.

Ao início do processo de tomada das Duas Sicilias, o sobrinho do Príncipe de Salina, Tancredi Falconieri, que havia aderido aos revoltosos, lhe diz que, para que as coisas permanecessem iguais, era preciso que tudo mudasse. Nem tanto. A mudança política implicou no desaparecimento da antiga ordem, com a perda da influência da Igreja Católica e  do prestígio da aristocracia, que teria de compartilhar o poder com a burguesia. Significativo foi o casamento de Tancredi com Angélica, filha do prefeito D. Calogero Sedara, rico burguês emergente. No consócio, ele entra com o nome ilustre e ela com o formidável dote.

Quem não se adapta é D. Fabrizio, aristocrata que só se sente bem entre os seus, em face de uma concepção hierárquica da sociedade.  Procurado por um representante do Piemonte, recusa uma cadeira no Senado em Turim. Responde que nas Duas Sicilias era par do reino, não podendo aceitar. Indica para o lugar D. Calogero Sedara, novo rico da burguesia emergente.

Com a unificação, o sul da Itália, com economia agrária, entrou em decadência,  enquanto o norte, mais industrializado, se tornou riquíssimo, acentuando a desigualdade, situação que até hoje perdura. Existe um partido, a Liga Norte, que pretende a cisão do país.

Em 1963, o romance foi levado ao cinema pelo diretor Lucchino Visconti, em grande produção estrelada por Burt Lancaster como D. Fabrizio, Claudia Cardinale como Angélica e Alain Delon como Tancredi. O ponto alto do filme é o baile no Palácio Ponteleone, em Palermo, a que aflui a nobreza siciliana. O clímax ocorre quando D. Fabrizio dança a valsa com Angélica, então apresentada à sociedade.

E o vento levou…

Fontes:

Giuseppe Tomasi di Lampedusa, O  Leopardo, tradução de José Antonio Pinheiro Machado,  LPM Editores, Porto Alegre, RS, 1983.

Antonio Ghirelli, Storia di Napoli, Einaudi, Torino, 1992.

O Leopardo, filme de 1963

Guia Michelin Italia, 1995

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