Obra “Americanah”, de Chimamanda Adichie, mostra a questão da etnicidade e é debatida no Clube de Leitura
O livro “Americanah”, de Chimamanda Ngozi Adichie, foi o centro de debates do Clube de Leitura da Apamagis, realizado no dia 8/11, às 19h, pela plataforma Zoom, sob condução de Íris Amâncio, professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa da Universidade Federal Fluminense. A mediação ficou a cargo da magistrada Danielle Martins Cardoso.
Chimamanda Adichie é destaque entre autoras nigerianas de sua geração e no universo literário internacional. A partir de uma história de amor, ela coloca em debate – com bom humor e sagacidade – questões prementes e universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.
A trama se inicia em 1990, em Lagos, maior cidade da Nigéria, ocasião em que o país enfrenta uma ditadura militar e Ifemelu e Obinze se entregam à experiência do primeiro amor. Ainda assim, Ifemelu almeja novas perspectivas e, dessa forma, se muda para os Estados Unidos, onde se sobressai academicamente, mas também enfrenta pela primeira vez transtornos raciais, agravados pelo fato de ser imigrante e mulher negra.
Em 15 anos Ifemelu transforma-se numa expoente blogueira nos Estados Unidos, condição que não amenizou sua intensa relação com seu país nem abalou seu amor por Obinze. Ao regressar, tanto ele quanto a Nigéria estavam diferentes.
“A obra nos convida a pensar, entre vários aspectos, a questão da etnicidade. O fator diferenciado já se manifesta no título do livro. A concentração de população na Nigéria é enorme. As pessoas vivem muito próximas, e isso se reflete no número de personagens e suas realidades no romance. Uma olhada no mapa da Nigéria mostra uma nação repleta de rios cujos nomes aparecem na obra. Esse lugar de fala da personagem [Ifemelu], sua composição e a do romance lançam mão de estratégias de construção textual que trazem os elementos constitutivos do próprio país”, afirma a professora.
Diversidades
Nos Estados Unidos, Ifemelu se depara com outras mulheres negras, mas oriundas de culturas diversas. Todas passam pelo crivo de comparação e julgamento da protagonista. Esta, por sua vez, sofre no livro a ação de uma narradora gramaticalmente distinta daquela, em segunda pessoa, que aprendemos na escola. Em “Americanah”, a narradora interfere, traz memórias, lembranças e até se incomoda com as atitudes da protagonista.
“Temos aqui uma obra que possibilita que pensemos as dimensões de ser e de estar no mundo. E, de maneira primorosa, a obra naturaliza de forma brilhante – ou brilhantemente chocante – a naturalidade de ser negro na diversidade entre negros. Quando falamos de diversidade – principalmente no Brasil – pensamos na perspectiva colonialista da dicotomia que carregamos conosco. Para mim, é fundamental apontar o tensionamento entre o afro e o negro que há na obra. Quando Ifemelu está nos Estados Unidos, assume a necessidade de ser negra. Porém, quando volta à Nigéria não tem mais de ‘ser negra’. Esse tensionamento traz ao leitor uma reflexão genial”, diz Íris Amâncio.
A professora aponta ainda o fato de “Americanah” romper com o formato tradicional da estrutura dos romances. Essa ruptura se explica pelo fato de Chimamanda ser uma escritora contemporânea, sintonizada em um tempo no qual a tecnologia explode. Gráfica e esteticamente, a obra também ousa, com mudanças de fontes de letras, subtítulos e até gêneros textuais: “Penso que isso foi pensado para fazer com que o leitor pare para meditar sobre as relações raciais. Chimamanda faz a crônica invadir o romance em várias passagens, e tais fragmentos de crônica trazem uma reflexão crítica sobre as relações raciais nos Estados Unidos”.
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