Obra de José Saramago, que discute a morte com um toque de sarcasmo e ironia, é o centro de debates do Clube de Leitura da Apamagis
Publicado em 2005, o livro “As intermitências da Morte”, do escritor português José Saramago, foi debatido no Clube de Leitura da Apamagis, no último dia 6/12, com a participação da professora Fabiana Tavares e mediação da magistrada Carolina Nabarro Munhoz Rossi, coordenadora da Associação em São Bernardo. Embora não seja sua obra mais famosa, este fascinante ensaio sobre a morte levanta questões essenciais, com um toque de sarcasmo e ironia, e acabou se tornando uma grande sátira sobre um dos eventos mais temidos pelos seres humanos.
José Saramago aborda nesta fábula a “pequena morte cotidiana” das pessoas, de um país não nomeado, como personagem central, valendo-se de ironia, figuras de linguagem e paródia, ao estabelecer que no primeiro dia de um ano qualquer não se morria mais naquele lugar. Logo, a morte ficou sem “função” e se aposentou. A situação, que a princípio parecia uma dádiva, acabou expondo as complicadas relações entre Igreja, Estado e a vida cotidiana.
Em “As intermitências da Morte”, José Saramago se posiciona frente ao tema da morte de uma forma mais humana e materializada. As ideias de angústia, medo e banalidade percorrem toda a sua literatura. “A angústia é gerada o tempo todo no começo da obra, ao mesmo tempo em que surge uma alegria efusiva. Aos poucos, vai se percebendo que ninguém morre. E há na obra uma ponte entre duas áreas que são as instituições: Governo, Igreja, Iniciativa Privada, Mídia, Família e a Máfia”, afirma Tavares, professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
A estrutura narrativa também foi um dos pontos frisados pela professora durante o Clube de Leitura da Apamagis. Na obra, o único escritor de língua portuguesa a ganhar o prêmio Nobel de Literatura trabalha com um narrador em primeira pessoa. Aqui, o autor de “O evangelho segundo Jesus Cristo”, “Ensaio sobre a cegueira”, “Memorial do convento” e “Ensaio sobre a lucidez”, entre outras, personifica a morte.
“O narrador pode ser o ‘eu’ como testemunha, que conta uma história, ou ‘eu’ como protagonista. Por definição, o narrador em primeira pessoa é, por excelência, não confiável, pois tem uma visão parcial. Em ‘As intermitências da Morte’, Saramago cria um narrador testemunha misturado com um narrador onisciente, que fala sobre as angústias e preocupações e dialoga com o leitor”, afirma Fabiana Tavares.
Embora essa história de 200 páginas pudesse ser contada em forma de conto, a professora aponta para o fato de a obra ser como a morte: “Ela dispõe do passado, do futuro. Ele é o narrador, e o narrador é Deus. Você vive o tempo que a morte ou Deus decidem que você viva”.
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