Ópera “Il Guarany” inclui Carlos Gomes e o Brasil no mapa da produção operística internacional e pauta encontro na Apamagis

Com uma montagem que leva indígenas ao palco, a ópera “Il Guarany”, de Carlos Gomes (1836-1896), exibida no Theatro Municipal de São Paulo, foi tema do encontro online promovido pela Apamagis em maio e capitaneado pelo maestro Leandro Oliveira. A mediação foi da magistrada Danielle Martins Cardoso.

A estreia mundial de “Il Guarany” provocou enorme alvoroço, em março de 1870. No palco do Teatro Alla Scala de Milão, então epicentro da produção operística na Europa, um compositor nascido em Campinas exibia uma inédita produção com tema brasileiro, baseado na obra de José de Alencar, e uma música com grande influência europeia, cantada em italiano. Foi um sucesso retumbante.

“Uma vez na Itália, Carlos Gomes entra na disputa de um mercado que vários historiadores tomam como paralelo uma espécie de mercado do cinema em Los Angeles”, disse Leandro Oliveira.

Em uma analogia com o nosso país, a relação do público com a ópera naquela época era semelhante à dos telespectadores com as novelas produzidas no Brasil das décadas de 1980 e 1990. “As pessoas iam às óperas com muita frequência. Era o programa das famílias”, destacou o maestro.

O palco do Scala de Milão era a vitrine mais vistosa e que impunha a disputa mais acirrada por espaço na programação. Mas é ali, na estreia mundial de “Il Guarany”, que Carlos Gomes se consolida como compositor de carreira internacional.

Imediatamente, a ópera ganha temporada na casa para depois seguir para países como França e Espanha, e depois ser encenada no Brasil. Graças à sua ópera, Carlos Gomes é condecorado duplamente, no Brasil e na Itália.

Um dos pontos fortes da ópera foi levar a cultura brasileira aos palcos, juntamente com uma música de excelente qualidade. O libreto – iniciado por Antonio Scalvini e concluído por Carlo D’Onerville – conta a história de amor do índio Peri, da etnia guarani, com a filha de um fidalgo português, Ceci. Ela também é alvo de investidas de um aventureiro espanhol, Don Antonio. Como pano de fundo, há tensão entre Portugal e Espanha, e entre os índios guaranis e aymorés.

Embora com o passar do tempo a ópera de Carlos Gomes tenha perdido espaço nas casas de ópera, até rarearem as suas temporadas, “Il Guarany” se eternizou na memória de muitos brasileiros com a música de abertura de “A Voz do Brasil”, programa oficial de notícias do governo federal com transmissão pelo rádio. A imponente música é a “protofonia”, ou seja, a abertura da ópera.

No encontro da Apamagis, Leandro Oliveira compartilhou vídeos com os participantes. Um deles, com foto do lendário tenor Enrico Caruso (1873-1921) e da soprano tcheca Emmy Destinn (1878-1930) acompanhada de áudio de ambos fazendo o dueto “Sento una forza indomita”, da ópera “Il Guarany”, em gravação de 1914.

Outro vídeo mostrou o tenor Plácido Domingo regendo a OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) na execução da protofonia de “Il Guarany” no Rio de Janeiro um século depois, em 2014.

Villa-Lobos e Bachianas

A conversa com os magistrados foi além da ópera, em si. Leandro Oliveira contou como o campineiro Carlos Gomes rumou ao estrelato na Europa com uma bolsa concedida pelo Império português no Brasil, como tornou-se admirado pelos seus pares e quais foram seus rumos após a consagração.

Leandro Oliveira ainda trouxe informações sobre a temporada atual de “Il Guarany” no Theatro Municipal de São Paulo, com ingressos esgotados. A partir das perguntas feitas pelos magistrados, no bate-papo de encerramento, Leandro Oliveira também traçou um paralelo entre Carlos Gomes e Heitor Villa-Lobos com suas Bachianas. E e falou de Tom Jobim.

Um novo encontro para discutir música clássica deve ter data definida em breve. O tema será a ópera “La Fanciulla Del West – A Garota do Oeste”, de Giacomo Puccini (1858-1924), que entra em cartaz no dia 14/7. Ainda é possível adquirir ingressos.