Clube de Leitura discute criatividade de Balzac em “O Coronel Chabert”

16 de novembro de 2021

O Clube de Leitura da Apamagis promoveu, no último 3/11, encontro virtual entre a escritora Vivian Schlesinger e associados, sob a mediação da magistrada Danielle Martins Cardoso. Em pauta, o livro “O Coronel Chabert”, do escritor francês Honoré de Balzac (1799-1850), incluído em “A Comédia Humana” – coletânea de suas obras completas. Além de percorrer vários aspectos da obra, a escritora identifica diálogos entre o livro e o filme “Le Colonel Chabert” (1994), adaptação de Yves Angelo e estrelado por Gérard Depardieu, Fanny Ardant e Fabrice Luchini. 

O personagem Chabert, oficial do exército francês, alcança suas mais gloriosas oportunidades nas campanhas napoleônicas. Casado com Rose Chapotel,  goza, tanto quanto sua condição o permitia, de uma vida relativamente estável apesar do front de batalhas. Em uma delas – em Eylau, 1807  –, é dado como morto. Ao mesmo tempo, sua esposa, sabendo da morte do marido, enluta-se. Mas, com o passar do tempo, conhece o aristocrata conde Ferraud, que lhe proporciona uma luxuosa vida e lhe dá filhos, algo que Chabert não lhe havia proporcionado. 

Contudo, já na vala mortuária coletiva, e no último segundo, Chapotel grita por socorro e é atendido, já que o ferimento não tinha sido fatal. A partir daí, desfigurado e oficialmente em óbito, vê sua vida transformada. De volta a Paris, disposto a retomar sua vida, o oficial reencontra Rose Chapotel. O casamento e a antiga casa onde eles moravam estavam demolidos. E o contexto político também não era mais o mesmo. Em Eylau, o exército de Napoleão não havia derrotado os russos, que bateram em retirada, e ainda sofrera milhares de baixas. Chabert teve perdas. Rose Chapotel, por outro lado, passou a se valer dos benefícios da aristocracia, tão favorecida por Napoleão em seu império. 

A obra de Balzac – que influenciará escritores do porte de Gustave Flaubert, Marcel Proust, Emile Zola e Charles Dickens – reflete as mudanças da época. “Nós achamos que vivemos uma época de muitas mudanças, mas, para quem vivia naquela época, a sensação era a mesma”, afirma a escritora Vivian Schlesinger. O cenário político francês é marcado pelas revoluções do começo do século XIX, quando o Império cede lugar à Restauração. 

 “Balzac era produto do ressurgimento de uma classe média que viva do próprio trabalho. Ele era muito comovido pelo comportamento humano. O que Balzac tem de realista, de inovador, são os personagens, mais do que os enredos”, aponta a escritora, para quem o gênio francês teve o grande mérito de utilizar técnicas modernas muito visíveis na estrutura teatral dos diálogos.  

Segundo Vivian Schlesinger, os personagens do escritor refletem uma mudança de mentalidades cuja compreensão é facilitada ao leitor por meio da fácil visualização de cenários e a estrutura sequencial do drama. Outra característica da obra é a ausência de uma visão maniqueísta dos personagens. “Neste livro, em particular, eles estão sempre caminhando em direções opostas, uma prostituta que vira condessa, e um coronel que vira um mendigo, um louco; ele [Chabert], representa o passado, acredita nos valores militares; para ela [Rose Chapotel], a questão da honra não é tão importante, mas sim o progresso financeiro, o status”, afirma. 

Chabert é expropriado de seus bens e de seu nome. Pede, então, ajuda ao advogado Darville para se lançar em uma última batalha pela retomada de sua identidade. As primeiras páginas do livro, escritas em ritmo frenético, reproduzem o linguajar dos diálogos dos funcionários de um escritório de advocacia e têm o efeito imediato de transformar o leitor num espectador pela força imagética de sua linguagem.  

“Como a Danielle [Martins Cardoso] falou, você começa a ler o livro e não quer largar. A cena dos advogados retrata um ambiente familiar à maioria dos leitores. No filme, com cenas mais longas se comparadas ao livro, fica evidente a maestria de Balzac em termos de concisão”, alertou a escritora. “Li que ele [Balzac] chegou a trabalhar em escritórios. Queriam até que fosse sucessor do advogado [Darville], mas ele fugiu rapidamente. A descrição [no livro] é muito viva e atual”, complementou a mediadora Danielle Martins Cardoso. 

 

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