Clube da Leitura aborda “Dom Quixote”, de Cervantes

21 de fevereiro de 2022

No último dia 8/2 o Clube de Leitura iniciou 2022 com a discussão de um dos maiores clássicos da literatura: “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes. O encontro teve a participação do escritor e filósofo Rodrigo Petronio, convidado para falar sobre a obra, e a mediação ficou por conta da magistrada Carolina Nabarro Munhoz Rossi. 

Romance mais traduzido da história, desde sua primeira edição, em 1605, Dom Quixote ganhou tamanha popularidade que, mesmo aqueles que jamais a leram, conhecem algo do seu enredo e personagens. Além do sucesso de público, revolucionou a literatura europeia. Em um período histórico de transição, a obra de Cervantes foi precursora do romance moderno. 

Idealista, carismático e supostamente louco, em suas andanças pela Espanha, o grande Cavaleiro da Triste Figura, acompanhado de seu escudeiro Sancho Pança, age como se vivesse no mundo dos romances de cavalaria e acredita na justiça e no amor romântico. Ao final dessa guerra, sonha ele, terá em seus braços Dulcineia, a amada imaginária. Por fim, nos deixa como legado que qualquer abordagem da realidade é sempre uma construção. 

Comédia ou tragédia? Eis uma das questões mais polêmicas da obra. “Se observarmos o primeiro volume, veremos que é uma comédia. Cervantes tinha esse objetivo, pensava em divertimento, no deleite do público. A obra tinha que instruir, mover e deleitar. Mas Dom Quixote não é apenas uma comédia, o que fica demonstrado no segundo volume, que pode ser lido como tragédia. No século XVII começa a haver a mistura de gêneros, que na verdade nunca foram puros”, afirma Rodrigo Petronio. 

Como livro de cavalaria, há um lugar reservado para a amada do Cavaleiro Andante: Dulcineia. “Da mesma forma que Dante, em ‘A Divina Comédia’, é movido por Beatriz, Dulcineia é a amada idealizada de Dom Quixote, a quem ele presta sua vida. Ela é o motor da aventura e da ação do livro. Os encantadores – que também criam Dulcineia na cabeça de Dom Quixote – transformam a realidade. São, ainda, recursos clássicos dos livros de cavalaria. “Quando o protagonista se depara com os moinhos, os ‘gigantes’ com quem vai lutar, para ele são de fato os gigantes, por mais que Sancho tente mostrar o contrário. É como se houvesse uma relação entre razão e desrazão, entre Sancho e Dom Quixote, articulada pelos encantadores”, diz o escritor Rodrigo Petronio. 

Em várias partes da obra, metaficção e ficção convivem com a própria vida de Cervantes, camuflada ao longo da história. Cervantes foi soldado durante muito tempo de sua vida, viveu batalhas contra os árabes, que chegaram a aprisioná-lo. “Apenas quando ele volta à Espanha vai se dedicar às letras. Às vezes um romance é uma colcha de retalhos. É como se Cervantes pegasse pedaços de fragmentos da vida, pedaços de textos que ele tinha escrito antes, teve a ideia do Dom Quixote e começou a amarrar e dar urdidura aos fragmentos”, explica o filósofo.         

Este questionamento da ficção estará, séculos depois, presente em obras de escritores como Jorge Luis Borges, Gabriel García Márquez e Vargas Llosa, cujas matrizes podem ser encontradas em Dom Quixote. “A potência de Cervantes também está em ele, de alguma medida, utilizar a metaficção já no século XVII”, afirma o escritor.  

Prova de sua transcendência, Dom Quixote virou fonte de inspiração não apenas para outras criações literárias, mas também para filmes, novelas, peças teatrais, óperas, balés e desenhos animados. Dois gênios da pintura espanhola, Salvador Dalí e Pablo Picasso, tentaram transportar para as telas os personagens criados por Cervantes. Assim, a genialidade, a sede de justiça e o espírito da esperança do personagem Dom Quixote faz com que o sonho de enfrentar novos moinhos de vento permaneça vivo até hoje. 

 

Próximos encontros 

Os próximos livros discutidos no Clube de Leitura serão “O Progresso do Amor”, de Alice Munro, programado para 8/3 e com participação da escritora Rita Palmeira, e “Ponciá Vicêncio”, de Conceição Evaristo, em 30/3. Ambos os encontros serão realizados em parceria com o Clube de Leitura da AMB. 

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