Clube de Leitura sobre “Madame Bovary” dura três horas e reúne 61 participantes
Polêmico à época em que foi lançado, “Madame Bovary”, de Gustave Flaubert, também gerou uma longa discussão no Clube de Leitura da Apamagis realizado nesta terça (2/3). A conversa, que contou com a presença da crítica literária Rita Palmeira, durou quase três horas e contou com 61 participantes.
Vários aspectos da obra lançada em 1857 foram debatidos. No entanto, a protagonista, Emma Bovary, dominou a cena, por vários motivos. A começar por sua importância na própria literatura.
“Ele é um marco do romance realista, mas vai muito além disso. Faz Flaubert ser o primeiro romancista propriamente moderno”, disse Rita Palmeira.
“Esse livro é um marco porque fala de uma mulher, o protagonismo é dela. Ele constrói um ponto de vista em terceira pessoa que adere ao ponto de vista de uma mulher insatisfeita com a sua vida. Não que antes não houvesse histórias em torno de mulheres, só que aqui há uma mulher que traz uma insatisfação, nunca preenchida, a qual a sociedade lhe diz que será complementada pela maternidade e pelo casamento. Mas isso não ecoa nela, que acha que a felicidade está no amor, não pelo marido. Isso é absolutamente transformador do ponto de vista do papel que a mulher vai ocupar a partir de Flaubert”, explicou a crítica literária.
Um dos traços da genialidade de Flaubert, como explicou Rita Palmeira, está na narrativa. O livro começa falando de Carlos Bovary, um sujeito sem graça, medíocre, que se torna médico, se casa e após ficar viúvo tem seu segundo casamento com Emma. Ela surge na trama em segundo plano.
Aos poucos, Flaubert vai tirando Carlos do primeiro plano da trama para dar vez a Emma, uma ávida leitora de obras românticas que vai buscar sua felicidade nos amantes, primeiro Rodolphe, depois Leon. Emma almeja ter a mesma liberdade que só os homens têm, de ir e vir.
Flaubert capricha em descrições. Segundo Rita Palmeira, vale a pena prestar atenção a esses trechos, mesmo que o leitor não seja muito afeito a esse recurso. “Essas descrições são realmente narrativas. Pode parecer contrassenso, mas elas dão ritmo”, disse Rita Palmeira. “Um dos maiores exemplos é a cena dos comícios públicos em paralelo à cena de Emma e Rodolphe na casa. Aqueles discursos podem parecer aborrecidíssimos, mas há contraste entre o que é o assunto cotidiano, na cidade pequena.”
O autor também faz uso de metáforas, como a presença de rio e oceano nas paisagens por onde passa Emma, simbolizando o constante movimento.
Flaubert, Tolstói e Eça de Queiroz
Para Rita Palmeira, Emma é uma personagem fascinante. Não houve consenso, nesse sentido, entre os participantes do Clube de Leitura da Apamagis. No entanto, a trajetória da mulher adúltera logo trouxe à baila comparações com outras obras, como “Anna Kariênina”, de Liev Tolstoi (1828-1910), que foi tema do Clube em março do ano passado, e “O Primo Basílio”, de Eça de Queiroz (1845-1900).
A questão era entender, para além do ponto em comum do adultério, se houve algum desfecho propositadamente moral para essas três mulheres e se a obra de Flaubert foi uma influência para essas obras.
O estilo literário do autor de “Madame Bovary” também ganhou destaque, em especial por uma certa impessoalidade narrativa que lhe é atribuída.
“Madame Bovary” foi a obra mais importante de Flaubert, mas há também outras que valem destaque, como “Salambô” e “Educação Sentimental”.
Na próxima edição do Clube de Leitura da Apamagis, marcada para 6/4l, às 19h, o tema será “Tudo Pode Ser Roubado”, da escritora paranaense Giovana Madalosso, nascida em 1975.
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