Documentário com depoimentos de ex-presidentes celebra 70 da Apamagis
Um povo sem memória é um povo sem história. Fazendo suas as palavras da eminente historiadora Emília Viotti da Costa, a Apamagis abraça o desafio de puxar o fio de sua meada. Aos 70 anos de sua fundação, em forma de documentário, resgata a herança que remete a seus primórdios. Tijolo por tijolo, “Construtores da Apamagis” reúne depoimentos da atual presidente, Vanessa Mateus, e dos demais 11 mandatários vivos. O projeto, lançado nesta terça-feira (14/11), contempla ainda um acervo de 12 vídeos com mais de dez horas de depoimentos integrais e acessíveis aos associados, que será disponibilizado em breve.
Durante as gravações, realizadas no estúdio da sede administrativa, cada entrevistado mata saudades de antigos colegas, se emociona, relembra fatos marcantes de sua vida profissional e à frente da Apamagis; reaviva cenas e narrativas marcantes, mescladas por fatos testemunhados, memórias afetivas dos primeiros contatos com a Associação; aponta digitais do ímpeto dos 29 magistrados do Tribunal de Justiça de São Paulo que, nos primeiros anos da década de 1950, abraçaram o associativismo ainda limitado ao assistencialismo. “Naquela época, os juízes ganhavam tão pouco que a família não tinha dinheiro para os enterrar. A solidariedade é que fundou a Apamagis”, recorda o desembargador aposentado Renzo Leonardi, presidente entre 2002 e 2003.
Exagero? Nem tanto. Como provam as palavras do ex-presidente (2008-2009) Henrique Nelson Calandra, eram tempos bicudos. “Quando ingressei na Magistratura, na década de 80, os funcionários traziam marmita com pipoca e os juízes levavam aquela vida igual a um cobrador de ônibus. Hoje, o salário do juiz é bom. Devemos isso a cada juiz brasileiro”, disse o desembargador.
Sobrava à Magistratura paulista empenho para crescer e aparecer. Presidente entre 2006 e 2007, Sebastião Luiz Amorim fala da importância e do esforço das várias gestões rumo à interiorização e o desafio de filiar novos associados – muitos deles separados por centenas de quilômetros da Capital: “O Dr. João Donizeti Gandini [vencedor do prêmio Innovare pelo projeto ‘Moradia Legal’, para reurbanização de favelas em Ribeirão Preto] foi um marco para a questão da interiorização, apaixonado pela Magistratura. Fez obras incríveis pelo interior, estimulou os encontros regionais…”
Na mesma toada, o desembargador Roque Mesquita, presidente entre 2012 e 2013, procurou não apenas integrar associados do interior e da capital, mas aproximar juízes de 1º e 2º grau. “Naquela época, quando eu vinha para São Paulo falar com um desembargador, havia todo um protocolo…Eu achava que o juiz de 1º tinha de ser tratado igualzinho ao desembargador. Procurei harmonizar bem o relacionamento e, aos poucos, fomos nos entendendo”, afirma.
Às imagens de labuta e longas viagens somam-se relatos de momentos prazerosos, vividos em confraternizações realizadas nas colônias de férias e cursos para associados. Um dos grandes atores dos investimentos sociais da entidade, o ex-presidente Sergio Rezende (1992-1995) frisa a importância da criação das colônias de férias. “A Associação começou vinculada apenas a problemas de saúde para chegar a uma associação de benefícios sociais, pois os magistrados não tinham possibilidades financeiras de tirar férias em locais caros”, afirma.
Como hoje, no plano das prerrogativas a regra primava os embates pela defesa da profissão e do Estado Democrático de Direito. Nessa linha de frente estiveram, entre outras, personalidades como o juiz Jayme de Oliveira (2014-2016): “Em 1988 havia outro movimento…A Constituinte exigiu muito das entidades de classe. Então, a Associação atuou como braço político da Magistratura”, frisou o presidente de honra da Apamagis e da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros).
Datam desse período lembranças marcantes restauradas pelo desembargador aposentado Régis de Oliveira, presidente da Associação entre 1988 e 1989 e figura ativa nas longas jornadas em que os magistrados “davam plantão” no Distrito Federal. “Quando da Constituição, nós alugamos um apartamento em Brasília e estávamos lá todos os dias. Conseguimos grandes avanços. O mais importante de todos foi a vinculação com os vencimentos do Supremo, a grande independência da Magistratura”, afirma.
Na mesma trincheira esteve o ex-presidente (2018-2019) Fernando Bartoletti, cujas histórias sobre as campanhas contra a reforma da previdência, entre outras, conferem ao documentário a dimensão de uma das campanhas mais duras da Associação: “A grande pedra que colocaram durante os anos em que eu estive à frente da Apamagis foi a reforma da previdência…E no Estado de São Paulo a tonaram ainda mais drástica”.
No corpo a corpo junto aos parlamentares, outros nomes de relevo somavam-se às negociações, muitas vezes tensas, porém respeitosas e recompensadas pelo reconhecimento da importância da Associação pelo Supremo Tribunal Federal. “O associativismo é fundamental. Aos 70 anos, vemos a força da Associação. Lembro que um dia fui a um ministro do STF e ele disse: ‘A todo poderosa Apamagis!”, lembra o desembargador Paulo Dimas, à cabeça da entidade entre 2010 e 2011.
Esse reconhecimento sempre se deu. Tanto no plano federal quando no estadual. “A Apamagis sempre foi muito bem-recebida. Os colegas tinham bom conhecimento do Direito Constitucional e Administrativo, uma seara mais próxima da Constituinte”, lembra Artur Marques da Silva Filho, que dirigiu a Associação entre 2000 e 2001.
Decifrar e aprender com os sinais que o futuro deixa transparecer por meio da tecnologia é uma das preocupações externadas pelo desembargador Oscild de Lima Júnior, presidente em 2017: “Quando entrei na Magistratura, fazia minhas sentenças no papel. Hoje, temos o processo digital. Esses são desafios que a nova Apamagis terá de cumprir, que demandará muita inventividade”.
Primeira mulher a ocupar a presidência da Apamagis e responsável por fortalecê-la e preservá-la nos funestos tempos da pandemia da covid-19, a juíza Vanessa Mateus (2020-2023) passou por “momentos de aprendizado e reinvenção”, frutos de trabalho e resultantes de crescimento e modernização. “Mostrar a importância desse associativismo para os colegas talvez seja nossa principal preocupação. Acho que o grande desafio para o futuro é essa sensação de pertencimento”, afirma.
- O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Fernando Antonio Torres Garcia, foi […]
NOTA PÚBLICA
A APESP, APAMAGIS, APMP, APMSP, ADPESP, APADEP e AFRESP manifestam sua preocupação […]
O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Fernando Antonio Torres Garcia, participou, nesta […]