Em “Memórias do Subsolo”, Dostoiévski faz um mergulho na psicologia humana
“Memórias do Subsolo”, de Fiódor Dostoiévski (1821-1881), pode não ser tão conhecido quanto outros livros do autor russo, como “Crime e Castigo” e “Os Irmãos Karamázov”. No entanto, a história narrada por um homem e que aborda a irracionalidade do ser humano, lançando críticas à ciência e à religião, antecipa questões que viriam a ser discutidas na sociedade muitos anos depois.
O existencialismo francês de Jean-Paul Sartre (1905-1980), os estudos do pai da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939) e até a teoria da relatividade de Albert Einstein (1879-1955) teriam encontrado referências em “Memórias do Subsolo”, como explicou a professora russa de literatura Elena Vássina, convidada da edição de junho do Clube de Leitura da Apamagis.
O encontro, realizado no dia 1º/6 com 52 participantes, reuniu um grupo atento e curioso, que ao final derramou elogios à professora, presente pela quarta vez no Clube de Leitura para falar de obras de seus conterrâneos.
Foram duas horas e meia de Clube de Leitura. Depois de contar como migrou para o Brasil e se tornou professora de literatura russa da USP (Universidade de São Paulo), Elena Vássina fez um resumo da vida de Dostoiévski e destacou fatos que o influenciariam na escrita de “Memórias do Subsolo”.
À espera do fuzilamento
Um deles foi a prisão, em São Petersburgo, por motivos políticos e que o levou a ser condenado à morte. Elena Vássina contou que, em dezembro de 1849, Dostoiévski estava em praça pública, em um grupo de condenados prestes a ser fuzilado. A primeira fila de condenados já tinha as cabeças cobertas por capuzes brancos. “Ele achava que ainda tinha três minutos de vida, e nesses minutos ele se despedia. Era uma situação limite, mas uma vivência muito intensa e profunda”, contou a professora.
“O czar adorava apresentações em massa. Nesse momento, ele manda seu mensageiro e começam a tocar o tambor. Então, o mensageiro anuncia o decreto do czar que é a mudança da pena capital pela prisão e trabalhos forçados na Sibéria”, contou Elena Vássina.
Dostoiévski e os demais condenados deixam a praça com grilhões de 12 quilos, nos braços e pernas. Na mesma noite embarcam para a Sibéria, onde passariam anos trabalhando ao lado de assassinos e criminosos.
Experiências influenciam obra
“A Propósito da Neve Molhada”, nome do segundo capítulo de “Memórias do Subsolo”, e no qual o personagem-narrador relembra fatos de sua vida, é uma clara referência a esse dia, pois o cenário visto pelo escritor, naquele 22 de dezembro, era o da neve molhada.
Essa experiência na Sibéria foi relatada no livro “Escritos da Casa Morta”, em que Dostoiévski, ao narrar aquele cotidiano, fez um mergulho na psicologia do ser humano.
Em “Memórias do Subsolo” não é diferente. “O ser humano é o maior enigma para Dostoiévski. A natureza do ser humano, no ponto de vista de dele, é composta de antinomias, paradoxos e polaridades. A gente pode ver isso nesse homem do subsolo”, disse Elena Vássina.
“Esse foi o estudo da irracionalidade, a grande descoberta de Dostoiévski, porque antes dele nenhum escritor havia mergulhado tão profundamente nesses enigmas, nessa imprevisibilidade do ser humano.”
Não é à toa que a ciência aparece em seu livro. Segundo Elena Vássina, a obra foi escrita na época do positivismo, quando a ciência se propunha a explicar os reflexos do cérebro, num período em que despontava o marxismo, o materialismo, em que a servidão era abolida na Rússia e as mulheres no país conquistavam o direito ao estudo.
Tragédias
“Memórias do Subsolo” foi publicado primeiramente em capítulos, em uma revista editada pelo próprio Dostoiévski e seu irmão. A primeira parte, “O Subsolo”, foi publicada em janeiro e fevereiro de 1864. A segunda parte, “A Propósito da Neve Molhada”, começou a ser escrita em maio e publicada em junho daquele ano.
O intervalo foi movido por outra tragédia. Nesse meio tempo, a mulher de Dostoiévski adoeceu e morreu por causa de tuberculose.
Romance japonês
O próximo Clube de Leitura, marcado para 6/7, às 19h, terá como tema “Samurai”, de Shusaku Endo, e como convidada, a professora e doutora pela USP Mina Isotani. Inspirado em fatos reais, o livro narra a história de uma comitiva japonesa que empreende uma viagem ao vice-reinado da Espanha, atualmente México, e depois a Roma, a fim de abrir caminho para o Japão se integrar ao comércio internacional.
Nesse grupo estão quatro samurais, entre eles Hasekura, protagonista da história, e Velasco, um padre ambicioso que vê nessa viagem a chance de se tornar uma liderança religiosa no país, com aval do Papa.
As inscrições para esse encontro podem ser feitas pelo e-mail clubedeleitura@apamagis.org.br, bastando enviar nome completo e número do celular. O evento será realizado pela plataforma Zoom.
Estão abertas as inscrições para o XII Congresso Brasileiro dos Magistrados Espíritas, a ser realizado […]
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) prorrogou, até as 23h59 do dia 15/7, as inscrições […]
No dia 16/7, serão sorteadas 50 inscrições para Juízes e Pensionistas associados da Apamagis e […]