Encontros de Psicanálise encerram análise de “O mal-estar na Cultura”

8 de novembro de 2022

A leitura e discussão do livro “O mal-estar na Cultura”, de Sigmund Freud, marcaram o encerramento do ciclo de palestras “Encontros de Psicanálise”, promovido pela Apamagis, e conduzido pela psicanalista Maria Carolina Accioly de Carvalho e Silva, no dia 25/10.

Escrito em 1929 e publicado em 1930, o livro é considerado um dos mais perturbadores ensaios sobre o desenvolvimento cultural da humanidade. Nele, o pai da psicanálise revela que a constituição psíquica do homem é um dos principais entraves para que o ser humano seja e permaneça feliz. Para tanto, estudou detalhadamente, sem se valer de recursos psicanalíticos, o processo de desenvolvimento cultural necessário para que as pessoas possam viver em sociedade.

No encerramento do ciclo “Encontros de Psicanálise”, a psicanalista Maria Carolina Carvalho e Silva – que também é psicóloga e trabalha no Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae – abordou os capítulos 6, 7 e 8 do livro. No primeiro deles foram discutidas as chamadas pulsões de morte, ou de agressão. Para Freud, a inclinação à agressão é uma predisposição funcional originária tão poderosa quando o impulso à vida, ou de Eros, como ele classificava.

“Para ele, existem essas duas forças pulsionais – de vida e de morte – em todo o ser humano e, portanto, compondo a cultura também. Ao ouvir seus pacientes, Freud descobriu que havia conflitos neuróticos entre o ‘Eu’ e a sexualidade. Mais tarde, descobriu que o conflito se dava entre libido do ‘Eu’ e libido em relação ao outro”, explica a psicóloga.

No tocante ao capítulo 7, foram discutidas as teorias freudianas de “mal” e “medo”, que acompanham o ser humano desde o seu nascimento, momento de desamparo físico e psíquico mitigado pela presença de adultos que se responsabilizem pela criança. “O primeiro medo na criança é o de perder o amor [das figuras parentais]. Em um segundo momento, isso caminha para o medo de uma autoridade para além dos pais”, afirma a psicanalista. A análise do capítulo também avançou para o conceito de “superego” ou “supereu” instância psíquica responsável pelo julgamento de nossas ações e pensamentos que, para Freud, nas palavras da psicanalista, “traz para o ‘Eu’ uma lei ambígua e quase enlouquecedora na medida em que coloca perante o ser humano os conflitos de origem da humanidade – ao mesmo tempo, os impulsos do proibido e a força da proibição”.

Finalmente, o grupo se debruçou sobre os conceitos de “consciência moral” e “remorso”. A primeira, como função que, entre outras, Freud atribuía ao “superego”, função que deve vigiar e julgar as ações e intenções do “Eu”, exercendo uma atividade de censura interna.  “O remorso já é uma punição, pode ser mais antigo que a consciência mortal; em alguns casos de pessoas religiosas a punição é um caminho para se livrar do pecado, da culpa”, afirma Maria Carolina Carvalho e Silva.

Como forma de contextualizar a obra, a psicanalista ressaltou que a produção de “O mal-estar na Cultura” teve início quando Freud atravessava um período de pessimismo diante da vida. “Ele passava pelo doloroso tratamento de um câncer. No contexto histórico, o nazismo já começava a ganhar força na Europa. Embora Freud fosse judeu, tinha uma visão crítica em relação às religiões, fato que não o impediu de se posicionar contra o perigo da guerra, do antissemitismo e de reafirmar sua origem”, afirmou a psicanalista, para quem a obra ganha certa atualidade nos dias de hoje.

Na obra, Freud opta por não separar os conceitos de cultura e civilização. Embora apostasse na possibilidade de uma construção coletiva da civilização e da cultura a partir do contato com “o outro”, o médico e pesquisador austríaco não era ingênuo. “Ele já formulara o conceito da pulsão de morte e inclusive trocava cartas com Albert Einstein nas quais discutiam os movimentos destrutivos produzidos pelo homem. Ao mesmo tempo em que apostava na questão civilizatória, Freud também apontava essa pulsão como parte do ser humano”, disse a psicanalista.

Confira a cobertura da 1ª palestra do Encontros de Psicanálise 

Confira a cobertura da 2ª palestra do Encontros de Psicanálise 

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