Livro de romancista estadunidense leva à reflexão de tema que atravessa décadas: o racismo

6 de novembro de 2024

“O olho mais azul”, da escritora estadunidense Toni Morrison, foi a obra discutida no último dia 5/11, pelo Clube de Leitura, com a presença como palestrante da professora de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa Iris Maria da Costa Amâncio. As magistradas Renata Manzini e Danielle Martins mediaram o encontro.

A trama se passa nos anos 1940, em Lorain, Ohio. Aborda temas complexos como racismo, identidade e opressão. Pecola Breedlove, menina negra de 11 anos, sonha com uma beleza diferente da sua. Negligenciada pelos adultos e maltratada por outras crianças por conta da cor de sua pele, ela deseja mais do que tudo ter olhos azuis como os das mulheres brancas ― e a paz que isso lhe traria.

Contexto explosivo
Primeiro romance de Morrison, “O olho mais azul” foi publicado em 1970, portanto, influenciado pelos movimentos sociais que varreram o mundo — incluindo o Brasil — na década de 1960. “A obra nos leva a um contexto sócio-histórico, na perspectiva política de um acirramento do debate racial dos EUA que explode com o brutal assassinato de Martin Luther King”, afirma Amâncio, que também é professora de Literatura na UFF (Universidade Federal Fluminense) e doutora em Estudos Literários/Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Tais traços históricos e de racismo estão presentes a partir do título da obra. Segundo a professora, já guardamos um entendimento histórico, do sentido dos olhos, na medida em que a beleza não é um atributo de todos os tipos e cores. E isso marca, na opinião de Amâncio, o diferencial do romance — sua provocação e tensionamento, à parte a questão de gênero, por ter como centro a vida de uma menina.

“Estamos em um universo marcadamente negro. E temos a literatura, a representação estética da condição ontológica dos negros que advém de vivências de profundo racismo. Há um tensionamento entre o ser negro e o ser branco; o ser feio e o ser belo; o ter olhos que remetem a uma sensação de inferioridade e a outra dimensão, de ter olhos que remetem a uma sensação de superioridade”, afirma.

Como forma de entendimento das dimensões dadas ao racismo por parte de escritores e estudiosos, Amâncio se remete a “Os condenados da terra”, obra-prima do falecido psiquiatra Frantz Fanon, expoente da luta antirracista e anticolonial no século XX.

Diferentes formas de ‘ser negro’
“O termo ‘Os Condenados da Terra’, como conceito adotado por Fanon, refere-se, dentro das relações coloniais na África e nas Américas, ao sujeito negro que é negado nesse contexto. E quais são as grandes condenações que se têm? As diferentes formas de ser negro que encontramos no romance”, aponta a professora.

De acordo com Amâncio, levando-se em conta o protagonismo das crianças em “O olho mais azul”, um dos pioneirismos da obra é trazer as vozes das crianças e pré-adolescentes predominando no romance. “Isso é genial. Como crianças sentem o racismo contra si? Como elas verbalizam as suas respectivas linguagens para poder expressar o que sentem — a condenação, a opressão histórica. Estamos diante de um romance que dá conta de cruzar história, sociopolítica, casa, gênero, economia, psicanálise, psicologia. É um clássico”, finaliza.

 

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