Os desafios para conter a alta judicialização na saúde são discutidos na abertura do Fonajus em SP

21 de novembro de 2024

Dados do Conselho Nacional de Justiça apontam que até setembro, existiam no Brasil 800 mil processos relativos à saúde pendentes de julgamento. Só neste ano, já foram ajuizadas 483 mil ações da mesma natureza. “Pior do que o volume de processos é a circunstância de que a tendência tem sido de aumento, portanto em 2020 tínhamos 21 milhões de ações; em 2024, temos mais de 61 mil ações por mês. Além de impedir o atendimento a tempo e a hora, não há estrutura que dê conta desse aumento crescente”, afirmou o presidente do Supremo Tribunal Federal e do CNJ, Luís Roberto Barroso, durante a abertura do III Congresso Nacional do Fonajus (Fórum Nacional do Judiciário para a Saúde), realizada em 21/11 no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo. Neste primeiro dia, foi anunciado um acordo entre CNJ e ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) para prevenir o ajuizamento de novas ações relativas aos planos de saúde.

O evento, realizado pelo CNJ com apoio da Apamagis em São Paulo, teve 850 inscritos, com abertura presencial e virtual (no YouTube do CNJ). No dia 22/11, serão realizados mais painéis. O presidente da Apamagis, Thiago Massad, e o 1º vice, Walter Barone, compareceram à abertura.

Além do ministro Barroso, compuseram a mesa a ministra da Saúde Nísia Trindade; o presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, Fernando Antonio Torres Garcia; o presidente do TRF3, Carlos Muta; o secretário de Governo e Relações Institucionais do Estado de São Paulo, Gilberto Kassab; o diretor-presidente da ANS  e integrante do comitê executivo nacional do Fonajus, Paulo Rebello Filho; a conselheira do CNJ e coordenadora do comitê executivo nacional e supervisora do Fonajus, Daiane Nogueira de Lira; o vice-diretor da Faculdade de Medicina da USP, Paulo Manuel Pêgo Fernandes; o defensor público geral federal da Defensoria Pública da União, Leonardo Cardoso de Magalhães.

Em seu discurso o ministro Luís Roberto Barroso disse que entre os desafios enfrentados pela Magistratura está o de ter uma visão mais abrangente de todo o sistema “para que muitas vezes a ideia de estarmos fazendo uma justiça de um caso concreto não estar produzindo subproduto que é uma consequência profundamente injusta em algum lugar que nós não estejamos vendo”.

Barroso destacou que em São Paulo, especialmente há uma litigiosidade maior no campo da saúde suplementar, e afirmou que de certa maneira esse momento no Fonajus seria um “brainstorming” para se pensar em soluções.

Um dos caminhos já foi apontado no evento: o acordo firmado entre CNJ e ANS para prevenir o ajuizamento de novas ações relativas à saúde suplementar, garantir a celeridade no julgamento de processos e oferecer subsídios técnico-científicos para a tomada de decisões de magistrados. Agora, será elaborado plano de trabalho conjunto para estreitamento da comunicação entre os órgãos e atualização permanente e recíproca de informações. A intenção é compartilhar documentos, dados, estudos e pesquisas voltados à disseminação de conhecimento a respeito do tema.

O ministro também citou decisões importantes do STF no âmbito da saúde, especialmente o tema 6 (que estabeleceu critérios mais rigorosos para a aquisição de medicamentos de alto custo) e o Tema 1234 (que estabelece critérios em relação ao ente responsável pela compra desses medicamentos e a qual segmento da Justiça tem competência para conduzir os processos). Disse aos juízes que “é preciso termos certa modéstia institucional de não sobrepormos a nossa capacidade institucional como juízes sobre a capacidade técnica de quem lida com esse assunto profissionalmente e diariamente”.

O ministro indicou o uso da plataforma e-Natjus, desenvolvido pelo CNJ, que representa um apoio técnico, por meio de parceria com o Ministério da Saúde e do Hospital Einstein, responsável pelas notas técnicas sobre as demandas de medicamentos e terapias. O acordo entre CNJ e ANS também prevê elaboração de notas e pareceres técnico-científicos para abastecer o e-Natjus.

Ação

“Vejo esse Fórum como um convite à ação”, disse a ministra da saúde, Nísia Trindade, para em seguida frisar os dois exemplos de deliberações do STF, dos temas 6 e 1234, trazidos pelo ministro Barroso. “Em ambos houve grande parceria e articulação entre o Ministério da Saúde e o STF.”

O presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Fernando Antonio Torres Garcia, disse que, irmanado aos princípios propostos pelo CNJ, criou junto à presidência um núcleo voltado ao tratamento da alta litigiosidade em saúde, com equipe multidisciplinar de juízes, procuradores, defensores públicos, servidores e profissionais da saúde. O objetivo é buscar alternativas extrajudiciais de solução de litígios e de forma a evitar o surgimento de novas demanda judiciais. “O TJSP também criou o Centro Judiciário de Solução de Conflitos da Saúde, e desde então tem experimentado excelentes resultados”, disse.

“Sem prejuízo dessas medidas já existentes, anuncio que, por incentivo do CNJ, o TJSP criará nos próximos dias um Núcleo de Justiça 4.0 especializado na análise de pedidos de medicamentos contra o poder público, sobretudo os que contam da lista padronizadas, a fim de que esses pleitos tenham uma apreciação prioritária no Judiciário bandeirante”, anunciou Fernando Antonio Torres Garcia.

“Não tem coisa melhor e mais gratificante no nosso trabalho, como cidadã, como advogada da União, como conselheira do CNJ, trabalhar em prol da saúde da população brasileira”, afirmou a conselheira Daiane Nogueira de Lira, do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Para ela, esse tema, esse direito “fazem, sim, com que a gente possa trabalhar 24 horas por dia, incansavelmente. Nosso trabalho é com transformação e realização prática”.

Em sua manifestação, Daiane Nogueira de Lira ressaltou que esta quinta-feira foi um dia especial em razão da assinatura do acordo de cooperação com a ANS: “De fato, precisávamos complementar esse trabalho do Fonajus e do CNJ em prol também da saúde suplementar”. É relevante pensar nos problemas e nas soluções de forma conjunta, porque o sistema público impacta no privado e vice-versa. “Assim, devemos encontrar caminhos em prol da maior eficiência com sustentabilidade para que mais pessoas no nosso país acessem o sistema de saúde.”

O objetivo do acordo é prevenir o ajuizamento de novas ações relativas à saúde suplementar, garantir a celeridade no julgamento de processos e oferecer subsídios técnico-científicos para a tomada de decisões de magistrados.

O documento foi assinado pelo ministro Barroso e pelo presidente da ANS, Paulo Rebello Filho. Agora, será elaborado plano de trabalho conjunto para estreitamento da comunicação entre os órgãos e atualização permanente e recíproca de informações. A intenção é compartilhar documentos, dados, estudos e pesquisas voltados à disseminação de conhecimento a respeito do tema.

Painéis

Ainda na parte da manhã, o ministro Gilmar Mendes, do STF, proferiu palestra magna no qual também falou sobre o Tema 1234, do qual foi relator. O ministro disse que esse foi um dos temas mais complexos abordados na Corte.

Na parte da tarde, o Fonajus promoveu os painéis Evidências na incorporação de novas tecnologias em saúde; Financiamento da assistência à saúde no Brasil, além dos seguintes painéis temáticos: Medicina baseada em evidências na visão dos temas 6 e 1234 do STF; Questões processuais nas demandas de saúde e os temas 6 e 1234 do STF; Desafios da judicialização da saúde. Esses painéis temáticos tiveram discussões divididas em subtemas

Em 22/11, o Fonajus terá os painéis Desafios e futuro da saúde suplementar e Tecnologia, inovação e o futuro da saúde, além do Prêmio Justiça e Saúde do CNJ – premiação da segunda edição, e o painel de encerramento Judicialização da saúde e diálogos interfederativos, com participação do ministro so STF Dias Toffoli.

 

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