Clube de Leitura da Apamagis discute ‘Tudo o que Ainda É’, primeiro romance do juiz Davi Capelatto

8 de agosto de 2024

Obter o segundo lugar na categoria contos do Prêmio de Literatura para Juízes, realizado pela Apamagis, Tribunal de Justiça de São Paulo e Academia Paulista de Letras em 2015, foi um grande incentivo para que o juiz Davi Capelatto seguisse adiante como escritor. Tanto foi que, no dia 6/8, ele deixou o posto de participante do Clube de Leitura da Apamagis para apresentar aos colegas o seu primeiro romance, “Tudo o que Ainda é” (Editora Rua do Sabão, 352 págs.), em encontro mediado pela juíza Danielle Martins Cardoso. A obra, segundo o editor, teve sua primeira edição rapidamente esgotada.
Quem entregou o prêmio a Capelatto naquela ocasião foi o escritor Mafra Carbonieri. O autor ficou em segundo lugar na categoria conto com “A Festa”. Dirigindo-se ao escritor Mafra Carbonieri, presente no Clube de Leitura, o juiz disse: “Foi você quem me entregou o prêmio e falou para eu continuar escrevendo. Aquilo foi importantíssimo para mim, foi inesquecível, então você tem participação decisiva nessa continuidade”.

“Tudo o que Ainda É” conta a história do jornalista Danilo, pai de uma menina pequena, que aceita trabalhar como obituarista em um pequeno jornal no interior de São Paulo. Seu trabalho acaba levando-o a refletir sobre temas como morte e finitude, essência e aparência, verdade e ficção.
A presença constante da morte na obra foi o primeiro tema abordado por Davi Capelatto no Clube de Leitura, que dessa vez começou com um novo formato. Em vez de haver a fala de um palestrante convidado, houve uma entrevista do editor do livro, Leonardo Garzaro (da editora Rua do Sabão), com o autor. Depois, foi realizada, como é de praxe, a conversa com os participantes, mediada pela juíza Danielle Martins Cardoso.

“A morte faz parte do livro o tempo inteiro, mas minha preocupação era deixar o texto mais leve, até pela minha personalidade. Sou uma pessoa de fazer piadinha no fim, quando o clima está pesado, então nos capítulos em que a morte aparecia de uma maneira inevitável nos obituários, procurei dar no finalzinho um toque de leveza, mesmo sabendo que a realidade não era assim”, disse o autor durante a entrevista. Essa escolha acabou definindo, de certa forma, o tom do livro, a ponto de fazer o autor mudar o desfecho de alguns conflitos que apareceriam na trama.

Para escrever o livro, Capelatto passou quatro anos recortando e arquivando diariamente os textos do obituário da Folha de S.Paulo, que geralmente falam de pessoas que não são celebridades. “Li todos”, disse. O autor catalogou os textos conforme o tom de cada um: uns destacavam projetos de vida; outros, a profissão, e havia aqueles que davam mais ênfase às peculiaridades da idade ou sublinhavam o desempenho do homenageado como esportista.

O asilo de Sorocaba que aparece na ficção foi inspirado em uma instituição real, que o autor conheceu em outra cidade do interior paulista. Capelatto também fez visitas a cemitérios em Sorocaba, onde diz ter caminhado ouvindo o canto dos pássaros, e acompanhou funerais, para ver a disposição dos objetos nas salas dos velórios e para sentir o clima desses ambientes.

Identidade
Mais do que um livro sobre morte, “Tudo o que Ainda É” se revela uma obra sobre identidade. “Eu tentei discutir essa questão filosófica que é um beco sem saída sobre a identidade do ser humano. Quem você é, se existe uma essência ou não. Isso foi o que me levou a fazer o livro e tentei fazer isso o tempo todo”, disse Davi Capelatto. De maneira intencionalmente simplificada, ele compara a passagem do tempo e as mudanças na vida, conforme mudamos de idade, a uma sobreposição de capas em um sofá. “O sofá é o mesmo, mas com as capas vai ficando outro, e respeita o relevo que existia antes”.

Há um tanto de Fernando Pessoa na composição do livro, já que o autor português é uma referência para Capelatto. Também há desfechos inusitados em alguns conflitos, com uso inteligente do anticlímax.
Davi Capelatto disse que ficou muito emocionado ao ver sua obra finalmente chegar ao público, no lançamento. Ficou imaginando se as pessoas iriam realmente gostar, mas o resultado está sendo positivo, e o autor, que continua participando de oficina de escrita criativa, até para se disciplinar no ofício, adiantou que prepara um novo romance. Desta vez, com o que acredita ser um desafio a mais: ter uma mulher como protagonista.

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