Memórias de Adriano’, de Marguerite Yourcenar, é o centro dos debates do Clube de Leitura
No dia 1º/10, a reunião do Clube de Leitura discutiu o livro “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar. O encontro teve como palestrante o historiador Rafael Bassi e como mediadora a juíza Renata Manzini. A atividade foi precedida, no dia 19/8, por uma discussão preparatória inédita, conduzida pelo professor de História Antiga e Medieval Filipe Noé da Silva.
“Memórias de Adriano” levou 27 anos para ser feito – de 1924, quando começou a ser escrito, a 1951 ano de sua conclusão. Tornou-se uma das mais fascinantes obras de ficção do século XX pela crítica, ao recriar, no que seria uma “autobiografia imaginária”, a notável vida do imperador Adriano, marcada por gloriosas vitórias e fatalidades e triunfos e reveses, no período em que governou entre os anos de 117 e 138. O líder romano impôs um reordenamento gradual a um mundo dilacerado por conquistas e guerras.
Elevada ao posto de a grande dama da literatura francesa, a belga Yourcenar, nesta obra-prima, reconstitui fatos históricos e, num estilo inigualável, mescla poesia, filosofia e elegância, apresentando Adriano como um dos mais sedutores personagens da história universal.
Em sua abordagem inicial, Bassi — doutor em História pela Unicamp e Letras pela PUC-RS — frisou a complexidade da obra, que, segundo ele, sempre esteve longe de ser um livro de entretenimento: “É um romance histórico, nas palavras da própria Marguerite Yourcenar. Porém, uma obra de literatura”.
Segundo o palestrante, a autora, nascida em 1903, começa a pensar o projeto do livro, o enredo e o personagem durante sua juventude, em 1924. Contudo, a obra seria publicada apenas em 1951. “Essa história — e isso ocorre com alguns escritores — sempre nos acompanha. Trata-se de um caso clássico de uma história, uma ideia, que esteve com ela ao longo da vida. Mesmo após abandonar a obra por alguns períodos, ela permanecia fazendo pesquisas históricas [relacionadas a seu personagem]”, afirma.
Porém, questiona Bassi, ao narrar fatos históricos, a autora se afasta ou se aproxima da verdade? Por um lado, Yourcenar se aproxima da possibilidade de uma verdade histórica, de outro, se depara com a constatação de que a história é apenas uma construção narrativa retórica.
“Creio que a Marguerite conseguiu lidar com esse problema de uma maneira incrível. No Caderno de Notas dela [anexo ao livro] percebemos que ela fez uma pesquisa histórica incrível, pesquisou anos na biblioteca de Yale [EUA] sobre o período histórico do Adriano, dos Antoninos”, disse.
O rigor da criação literária em “Memórias de Adriano” também foi ressaltado, pelo historiador, a partir do conceito mais simples da arte, cujo conceito relaciona-se ao ato de se apropriar de uma matéria e transformar em um objeto artístico. A matéria da literatura é a palavra. “A pessoa que escreve, transforma a palavra em arte. ‘Memórias de Adriano’ é um dos grandes exemplos disso. Ela conseguiu trazer a humanidade do imperador Adriano — um homem muito sábio e viajado — de uma mineira literária. Transforma uma autobiografia inventada por ela, de um personagem real, em literatura”, ressalta o palestrante.
Por fim, Bassi frisa a importância de Yourcenar — uma mulher ao mesmo tempo extremamente culta e boêmia — em termos literários e mesmo políticos. Não bastasse uma trajetória de vida tão repleta de experiências, a escritora conseguiu, em 1980, quebrar uma tradição da Academia Francesa de Letras: ingressar numa casa até então reservada apenas a homens: “Ela abriu caminhos, teve importância, também, como defensora de que as mulheres precisavam daquele espaço de reconhecimento”.
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