Segunda parte de “O Idiota” tem amor, violência e um olhar sobre a irracionalidade humana

4 de setembro de 2023

O dinheiro, a beleza, a violência e o amor em suas variadas formas: há um pouco de cada um desses itens na segunda parte do livro “O Idiota”, de Fiódor Dostoiévski, que foi tema de discussão no Clube de Leitura da Apamagis em agosto. O encontro foi uma sequência do realizado em julho, sobre a primeira parte de obra, e novamente contou como convidada a professora de literatura russa da USP Elena Vassina. A mediação foi da magistrada Eliete Guarnieri.

Nessa segunda parte do romance, já se passaram seis meses, e algumas mudanças aconteceram. Uma delas é que o príncipe Míchkin reaparece rico. “Dinheiro é um dos principais temas que percorrem toda a obra de Dostoiévski. Sempre há um dinheiro inesperado, uma herança, uma fortuna”, disse Elena Vassina, relembrando que o próprio autor viveu grandes dificuldades financeiras quando escrevia esse livro.

Como também já é característica da obra de Dostoiévski, a ação em “O Idiota” se desenvolve em diálogos, algo típico do gênero dramático. E não por acaso os livros do autor russo são chamados de romances-tragédia. “Toda a força da representação literária estética de Dostoiévski está concentrada nos diálogos. É neles que tudo se enlaça e se resolve”, explica a professora. As cenas em que vários personagens se reúnem e há um grande conflito voltam a aparecer.

Altruísmo

No encontro da Apamagis, foi destacada uma passagem em que Aglaia coloca uma carta que recebeu do príncipe no meio do livro “Dom Quixote”, de Miguel de Cervantes. A importância desse gesto é que ele remete à própria concepção do personagem principal, o príncipe Míchkin. Dostoiévski queria, como protagonista, um homem bom, altruísta.

Dom Quixote, segundo a professora, aqui representa tema importante para Dostoiévski, que é o inconsciente coletivo humanista da humanidade. “Sempre há esse conflito entre mente egoísta de Rogójin, que quer tudo para si e tem a paixão forte, carnal, de possuir Nastácia Filíppovna, e por outro lado há o amor altruísta do príncipe Míchkin a Aglaia e Nastácia. É um desejo, um sonho que Dostoiévksi representa nesse romance”, explica Elena Vassina.

O amor, aliás, é ponto central desse livro. Segundo Elena Vassina, o tempo todo, onde há luz, há sombra e escuridão, e como existe o espírito iluminado e brilhante de Míchkin, existe a paixão cega e escura de Rogójin. “O tema de amor é muito importante nesse livro, talvez seja o romance de Dostoiévski no qual o amor é mais importante”, disse.

Irracionalidade

Em “O Idiota”, o príncipe Míchkin também se depara com questões em voga na Rússia da segunda metade do século 19, como o niilismo. Um dos adeptos dessa filosofia irá confrontá-lo: “Príncipe, é verdade que o senhor disse uma vez que a ‘beleza’ salvará o mundo? Senhores — gritou alto para todos —, o príncipe afirma que a beleza salvará o mundo! Mas eu afirmo que ele tem essas ideias jocosas porque atualmente está apaixonado. Senhores, o príncipe está apaixonado; quando ele entrou há pouco eu me convenci disso. Não core, príncipe, vou sentir pena do senhor. Qual é a beleza que vai salvar o mundo”?

Elena Vassina comenta que “a discordância surge, em particular, porque a própria palavra beleza existe na linguagem de Dostoiévski em vários significados. A beleza externa como a de Nastácia tem seu impacto poderoso, às vezes fatal”. No livro “Irmãos Karamázov”, o autor irá falar muito sobre essa beleza espiritual, que é reflexo do divino e que pode salvar o mundo.

Haverá escândalos, morte e surpresas na segunda parte do livro. É um mergulho naquilo que interessa a Dostoiévski abordar: a irracionalidade da natureza humana.

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